sábado, 26 de outubro de 2019

Consciência, amor-próprio, fé e transcendência: a moderna Teoria da Evolução

Escrito originalmente em: 22/11/2012. 
Revisado em: 22/10/2019. 
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Palavras-chave: Teoria da Evolução, Consciência, Fé, Acreditar, Motivação, Esperança, Amor-próprio, Neurociência, Transcendência. 

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Observação importante: digo a "moderna Teoria da Evolução" pois ela não se processou somente nos corpos dos animais e plantas, simplificando, e sim com respeito também à nossa cognição, sentimentos e emoções. Já é difícil para o leigo aprender, acreditar nela quando falamos dos corpos dos seres vivos; imagine então dizermos dos complexos processos em nossas mentes. 
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“Assim que as faculdades importantes da imaginação, maravilha e curiosidade, juntamente com algum poder de raciocínio, se tornassem parcialmente desenvolvidas, o homem naturalmente desejaria entender o que estava passando ao seu redor e teria vagamente especulado sobre sua própria existência.” - Charles Darwin - "A descendência do homem".
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Introdução: 
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Este artigo é uma tentativa de explicar a razão pela qual existe um conjunto de mecanismos neurais, selecionados pela Evolução, a sustentar possíveis desequilíbrios emocionais causados por um forte questionamento existencial oriundos da nossa consciência. Esses desequilíbrios poderiam nos levar a doenças ou a uma fraca condição de existência e prejudicar a nossa sobrevivência no planeta. A consciência possui dois lados, como você verá neste texto, um a catalisar, a facilitar a inteligência mas outro nos levando a esses questionamentos.
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Temos a capacidade, através do nosso cérebro em pensamento, imaginação, abstração, etc., de transcendermos a matéria e a energia comuns e inventarmos divindades, entes menores, seres "espirituais" neste ou em outro (s) 'plano' (s) de existência a interagir conosco. Na verdade, conseguimos imaginar a existência de outro mundo ou outros mundos, outras realidades, além deste nosso mundo físico e onde estariam supostos seres espirituais e/ou sobrenaturais. Mas seria só imaginação embora junto com sentimentos e emoções, e, aqui, você verá, está um diferencial importante nas mentes dos humanos desde a nossa tomada de consciência de nós mesmos e do mundo ao nosso redor. Ver também “Neurociência e como se formam os valores religiosos em nossos cérebros”. (1)


Todos os nossos sentimentos e emoções foram selecionados através da evolução não deixando a espécie humana se extinguir aqui na Terra. E existe uma base sólida de conhecimentos atuais, da Neurociência com A Teoria da Evolução, para tanto: ver os meus artigos "O Porquê dos Nossos Sentimentos" (2) e "O Porquê dos Nossos Sentimentos - 02". (3) 


No reino animal existe o instinto de sobrevivência, o instinto de autopreservação, pelos quais os animais respondem a alguma agressão do meio ambiente ou de outros animais, para sobreviverem. As primeiras formas de vida na Terra, seres unicelulares, por volta de 3,6 bilhões de anos, já apresentavam alguma forma de reação de autopreservação, como, por exemplo, a capacidade de se afastarem de uma fonte de calor. A crescente complexidade, no tempo, dos seres vivos, só foi conseguida através da seleção de comportamentos complexos para lidarem com meios ambientes novos ou em transformação. E assim também se selecionou sistemas nervosos com cérebros.   


Podemos pensar o seguinte: de seres unicelulares até os mais complexos da atualidade, nós, os humanos, a natureza selecionou, de atos reflexos para reações de sobrevivência, comportamentos simples, até o sistema nervoso mais complexo existente para dotar-nos da maior variabilidade de comportamentos possíveis para a nossa sobrevivência. Nosso sistema nervoso é portador do órgão mais complexo dos seres vivos com os mecanismos superiores da inteligência, emoções, sentimentos e a consciência: o nosso cérebro. 


A variedade de comportamentos através da inteligência, produzida pelo cérebro, nos faz adaptarmos a qualquer ambiente terrestre. E a consciência também entra nessa história.

Por um lado, apenas com um exemplo, ela está presente em nossas ações facilitando decisões junto à inteligência: "irei sair de carro agora pois se não poderei pegar chuva e onde vou fica muito difícil para o meu carro." Um raciocínio simples mas veja a consciência em (eu) irei, (eu) poderei, (eu) vou e (mim) meu carro. Quatro vezes!


Pode-se considerá-la na inteligência como uma unificadora de ideias, fatos, objetos concretos ou não, etc., formando um todo coerente, o pensamento, de uma forma sintetizada e rápida, um catalisador. E ainda essa união possibilita a formação de raciocínios complexos imprescindíveis na formação de tecnologias, que, sem elas, nunca chegaríamos ao nosso mundo de hoje.


E quanto às relações conosco mesmo e com o mundo que nos cerca? Quero dizer, dúvidas, preocupações, questões existenciais? Sobre nós, a morte, a razão de viver e sobre o bem e o mal. Irei até enumerá-las:


1 - Nós: "Quem sou eu? O que sou eu? O que faço aqui neste mundo? Por que estou aqui? Há uma finalidade?"
2 - A morte: "Para onde vou após a morte? Por que ela existe? Voltarei? Por que uns morrem primeiro a outros independente de tudo? Depois dela há vida em outro lugar?
3 - Viver: "Qual o sentido da vida? Por que vivemos? Para que vivemos? Existe uma finalidade; se sim, qual seria?
4 - Existe o bem mas por que existe o mal? Qual seria a razão dele existir? E a respeito dele nos problemas em nossas relações sociais como as agressões, traições, homicídios, guerras, etc.?


Foi assim desde o primeiro humano...


Mas será que para o cérebro humano, um órgão tão avançado como ele é, produtor de tanta variedade em termos comportamentais, bastariam apenas alguns mecanismos de defesa, de autopreservação, agressividade – a qual nessa altura já é uma emoção para preservar a espécie que o contém? Não. Foi necessário algo muito mais refinado, avançado também: o amor-próprio. Ele seria o ápice de um sistema necessitado de conservação, proteção, etc., ou seja, tudo ligado ao corpo e a ele mesmo para sobreviver. Talvez não seja mesmo por acaso a relação: animais sem consciência - instinto de sobrevivência; animais conscientes (humanos) - instinto de sobrevivência + amor-próprio. Note a frase “eu me amo”: amor-próprio com o “eu” da consciência. 


E a fé do título deste blog? 

Existe uma confusão muito grande com respeito à fé e às crenças. As pessoas acham que só existe a fé se houver crenças religiosas, mas alguém pode não possuir crenças e ter fé, fé em si mesmo, no próprio potencial, em sua vida, etc. A fé é uma convicção, confiança, um sentimento de total crença em algo ou alguém, ainda que não haja nenhuma evidência comprovando a veracidade da proposição ou causa. Com relação ao acreditar, primeiro você acredita, depois coloca a sua fé!


As religiões são um conjunto de ideias e crenças, surgidas em um local específico no planeta - uma região, um povo, etc. -, ensinadas às crianças desde cedo. Há variações em interpretações das ideias, das próprias crenças com o passar do tempo, há divisões, há expansões para outros povos, etc.; e você sabe, seriam necessárias bibliotecas e mais bibliotecas gigantescas para conter tantas informações e conceitos criados pelo ser humano nesse sentido. Mas algo é certo: os sentimentos das pessoas são canalizados para as crenças das suas religiões locais e essas crenças se tornam verdades absolutas para cada uma das pessoas. Elas passam a ter fé nos entes e nos ensinamentos dessas religiões, nos valores religiosos. É o relativismo religioso. (4)

Mas por qual razão surgiram as ideias e crenças de cada povo? 


Precisei discorrer sobre amor-próprio, consciência, transcendência e fé para chegar onde eu queria, um conjunto de circuitos neurais atuando em muitas áreas cerebrais.

Como um ser inteligente, consciente de si e do mundo a sua volta, e dotado de amor próprio, iria lidar com as questões enumeradas mais acima? 


Acredito em uma dificuldade séria ao cérebro a não funcionar direito. 


A partir do momento no qual o cérebro dos pré humanos se tornou o mais próximo do nosso, ele teria, penso eu, ter na combinação de consciência e amor-próprio, a fé e o poder de transcendência, de conseguir abstrair entes divinos e formular crenças, de conceber uma "vida após a morte", etc., com a propriedade de ter fé neles, de acreditar com uma grande dose de carga emocional. A consciência e o amor-próprio talvez iriam causar um impasse à evolução do nosso cérebro e esse conflito seria, em grande parte ou em um todo, resolvido com a presença do acreditar, da fé e da transcendência a formular crenças.

Uma moderna Teoria da Evolução compreende acrescentar os nossos processos cognitivos, sentimentos e emoções, como fatores favoráveis a um cérebro  em eficiente funcionamento. 

Os mecanismos neurais aos quais me refiro na "Introdução" são aqueles ligados à fé, à capacidade de formularmos crenças, juntos também com a capacidade de abstração, de pensarmos em níveis transcendentais para qualquer propósito.

Junto ao acreditar e a fé estão também a motivação e a esperança, entrando nesse contexto como verdadeiros motores a nos impulsionar todos os dias aos nossos objetivos, que nada mais são do que a nossa sobrevivência como indivíduos e também a sobrevivência da espécie humana. 

 


P.S. (25-10-2019): em 2018, António Damásio publicou o livro "A estranha ordem das coisas" com os seguintes dizeres:  (5)


"...A medicina primitiva não tinha condições de cuidar dos traumas da alma humana. Mas é possível supor que, em grande medida, crenças religiosas, sistemas morais e justiça, assim como a governança política, tivessem por fim lidar com esses traumas e facilitara recuperação de suas consequências. A meu ver, o surgimento das crenças religiosas guarda uma relação muito estreita com o luto da perda de entes queridos, que forçou os humanos a confrontar a inevitabilidade da morte e os incontáveis modos como ela pode ocorrer: acidentes, doenças, violência perpetrada outros e por catástrofes naturais, qualquer coisa exceto a velhice uma condição rara em tempos pré-históricos. Muitos traumas da alma humana eram infligidos por acontecimentos públicos no espaço social, e as crenças religiosas eram respostas apropriadas em vários aspectos.

A resposta a perdas e ao luto causado pela violência variava e, dependendo do indivíduo, incluía empatia e compaixão, mas também raiva e mais violência. É compreensível que o pesar tenha sido compensado por uma concepção adaptativa de poderes sobre-humanos, na forma de deuses capazes de resolver grandes conflitos e violência em alto grau. Em um período animista nessas culturas, provavelmente pedia-se aos deuses não apenas ajuda para os sofrimentos pessoais, mas também proteção contra a propriedade pessoal e comunitária - plantações, animais de criação, território vital. Mais tarde, no caso de culturas monoteístas, a crença nessas entidades por fim assumiria a forma de um único Deus capaz, por exemplo, de explicar perdas em termos justificáveis e até mesmo aceitáveis. Por fim, a promessa de continuidade da vida após a morte poderia anular totalmente os efeitos negativos de quaisquer perdas e trazer-lhes outro significado...".

Damásio fala em termos gerais, antes de chegar ao Deus cristão, a respeito das crenças sendo, todas elas, favoráveis ao bem-estar humano. Ele não entra no relativismo religioso mas sabe que todas as religiões, crenças que não se tornaram religiões, etc., foram e são fundamentais a nós, mesmo diferentes entre si. É o relativismo religioso na minha visão. (6)

Sem pretensão, mais uma vez minhas ideias são muito parecidas com as dele, como eu digo no meu artigo "O porquê dos nossos sentimentos: sobre ideias e conclusões que cheguei antes de António Damásio" (7)  


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Referências:
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1 – Argos Arruda Pinto. Neurociência e como se formam os valores religiosos em nossos cérebros. 2017. Disponível em: < https://argosarrudapinto.blogspot.com/2017/02/neurociencia-e-como-se-formam-os.html >. Acesso em: 04/10/2018. 

2 – Argos Arruda Pinto. O porquê dos nossos sentimentos. 2001. Disponível em: < https://sistemaevolucaoneurociencia.blogspot.com/2008/01/o-porqu-dos-nossos-sentimentos_28.html >. Acesso em: 04/10/2018.  
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3 Argos Arruda Pinto. O porquê dos nossos sentimentos – 02. 2002. Disponível em: < https://sistemaevolucaoneurociencia.blogspot.com/2008/01/o-porqu-dos-nossos-sentimentos-ii.html >. Acesso em: 04/10/2018. 

4 - Argos Arruda Pinto. O Relativismo Religioso como eu o vejo: as muitas diferenças entre as religiões
< https://orelativismodasreligioes.blogspot.com

5 - DAMÁSIO, A. A estranha ordem das coisas: as origens biológicas dos sentimentos e da cultura. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. p. 202-203.

6 - Argos Arruda Pinto. O Relativismo Religioso como eu o vejo: as muitas diferenças entre as religiões
< https://orelativismodasreligioes.blogspot.com > 

7 - Argos Arruda Pinto. O porquê dos nossos sentimentos: sobre ideias e conclusões que cheguei antes de António Damásio. 2014. Disponível em: < https://argosarrudapinto.blogspot.com/2014/03/ >. Acesso em: 25/10/2019.

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Se a Psicologia é uma Ciência, por que admite a espiritualidade?

Para não perder adeptos! 

Mas, como assim adeptos? 

Você procura um psicólogo pois está com um problema emocional, digamos, muita ansiedade no trabalho. Então começa a realizar sessões de terapia e o psicólogo logo no começo desse tratamento diz a você esquecer Deus, sua religião, seus cultos e/ou missas, que o cérebro é uma máquina biológica precisando sim ser melhor entendida por você, ou seja, se não sabe, vá estudar. Pronto, acabou! 

Vivemos em sociedades nas quais a religiosidade é muito forte e, no caso do Brasil, assim como na maioria dos países ocidentais, sentimentos e emoções são originados pela nossa alma, e um psicólogo pedirá a você cuidar da sua espiritualidade, a frequentar mais os cultos ou as missas, orar em casa, etc. 

Um psicólogo nunca irá bater de frente com nenhum paciente com respeito a esse assunto pois sabe das influências dos valores religiosos na formação da personalidade de uma criança, ensinada, primeiro, sobre o que a religião diz, para depois se tornar um valor religioso: Deus, Bíblia, orações, etc. São memórias de sentimentos. Outras religiões também o fazem e aqui cabe algo da incrível natureza do nosso cérebro: o poder de aprender! Simplesmente isso. Aprendeu a orar por Ganesha a obter sucessos financeiros... E quem é Ganesha? Um dos muitos deuses cultuados pelo hinduísmo, também primeiro ensinado aos hindus para depois se tornar um valor religioso. Eles rezam ao Deus cristão? Não, não aprenderam sobre Ele e então não é um valor religioso em suas vidas. E assim o é em todas as religiões diferentes do cristianismo. Nem entrarei no campo de quem está correto pois é relativo: cada um acha corretos os ensinamentos passados a ele. 

Você se lembra de algum acontecimento no qual aprendeu e passou a gostar, admirar, um valor religioso? Me lembro, perto dos cinco anos de idade, da bela árvore de Natal erguida em casa pelos meus pais. Alguns amigos mais velhos da vizinhança me disseram da comemoração do nascimento do Filho de Deus, Jesus Cristo, sendo o Seu Pai criador de tudo existente a minha volta. A natureza para mim era apenas o quintal de casa, mas foi Ele quem criou!
  
No hinduísmo as crianças aprendem sobre um trio de deuses, Brahma, Vishnu e Shiva, construindo e destruindo o universo, tudo existente. Se tornam os valores deles. Valores esses muito importantes pois as orações, com a fé, influirão no bem-estar psicológico deles. E Deus também para os cristãos. Mas eu disse "bem-estar psicológico". Pois é, tanto no hinduísmo como no cristianismo, e com as outras religiões, os cultos aos valores produzem as mesmas sensações, melhoram o humor, diminuem a ansiedade, mexem com a força interior das pessoas, despertam esperanças, motivam, etc. São realmente um bálsamo psicológico para todos. 

Eu acredito no potencial do nosso cérebro com os valores religiosos sem da necessidade de entes divinos e sim com as fortes memórias de sentimentos.

A Neurociência está descobrindo, e já descobriu muito sobre a dinâmica dos nossos sentimentos e emoções ocorrendo conosco. Um estímulo externo ou um interno como uma oração baseada em nossas memórias de sentimentos, faz com que circuitos neuronais, regiões cerebrais, etc., produzam substâncias levando-nos a sentirmos melhor, (1) através dos estados citados relatados acima... O cristão com as suas orações, o hindu com as deles e assim com todas as religiões que já existiram e as que existem. 

Sendo a alma, pela Bíblia, a produtora dos nossos sentimentos e emoções, ela se tornou um "fato" arraigado em nossas sociedades, tido como uma verdade absoluta e inquestionável.
     
Já ouvi de várias pessoas sobre psicólogos dizendo a elas para cuidarem de suas espiritualidades. De qualquer maneira elas se sentirão melhor orando pelos seus valores. Mas a Psicologia é uma Ciência e as ciências devem trabalhar com energia e matérias comuns e não através do sobrenatural, imaterial, influindo em nossos sistemas físico-químicos, biológicos. Até lá a Neurociência deverá descobrir muito da materialidade do que é dito hoje como sobrenatural! 


Referência: 

"O que é o sentir? Sentimentos e emoções" 


Material complementar de leitura - um artigo meu:

"Por que Deus não 'nasce' junto nas cabeças das pessoas?"