Escrito
originalmente em: 22/11/2012.
Revisado
em: 22/10/2019.
.
Palavras-chave:
Teoria da Evolução, Consciência, Fé, Acreditar, Motivação, Esperança, Amor-próprio, Neurociência,
Transcendência.
.
Observação importante: digo a "moderna Teoria da Evolução" pois ela não se processou somente nos corpos dos animais e plantas, simplificando, e sim com respeito também à nossa cognição, sentimentos e emoções. Já é difícil para o leigo aprender, acreditar nela quando falamos dos corpos dos seres vivos; imagine então dizermos dos complexos processos em nossas mentes.
.
“Assim que as faculdades importantes da imaginação, maravilha e curiosidade, juntamente com algum poder de raciocínio, se tornassem parcialmente desenvolvidas, o homem naturalmente desejaria entender o que estava passando ao seu redor e teria vagamente especulado sobre sua própria existência.” - Charles Darwin - "A descendência do homem".
.
.
Observação importante: digo a "moderna Teoria da Evolução" pois ela não se processou somente nos corpos dos animais e plantas, simplificando, e sim com respeito também à nossa cognição, sentimentos e emoções. Já é difícil para o leigo aprender, acreditar nela quando falamos dos corpos dos seres vivos; imagine então dizermos dos complexos processos em nossas mentes.
.
“Assim que as faculdades importantes da imaginação, maravilha e curiosidade, juntamente com algum poder de raciocínio, se tornassem parcialmente desenvolvidas, o homem naturalmente desejaria entender o que estava passando ao seu redor e teria vagamente especulado sobre sua própria existência.” - Charles Darwin - "A descendência do homem".
.
.
Introdução:
.
Este
artigo é uma tentativa de explicar a razão pela qual existe um
conjunto de mecanismos neurais, selecionados pela Evolução, a
sustentar possíveis desequilíbrios emocionais causados por um forte
questionamento existencial oriundos da nossa consciência. Esses
desequilíbrios poderiam nos levar a doenças ou a uma fraca condição
de existência e prejudicar a nossa sobrevivência no planeta. A
consciência possui dois lados, como você verá neste texto, um a
catalisar, a facilitar a inteligência mas outro nos levando a esses
questionamentos.
.
:::::
.
Temos
a capacidade, através do nosso cérebro em pensamento, imaginação,
abstração, etc., de transcendermos a matéria e a energia comuns e
inventarmos divindades, entes menores, seres "espirituais"
neste ou em outro (s) 'plano' (s) de existência a interagir conosco.
Na verdade, conseguimos imaginar a existência de outro mundo ou
outros mundos, outras realidades, além deste nosso mundo físico e
onde estariam supostos seres espirituais e/ou sobrenaturais. Mas
seria só imaginação embora junto com sentimentos e emoções, e,
aqui, você verá, está um diferencial importante nas mentes dos
humanos desde a nossa tomada de consciência de nós mesmos e do
mundo ao nosso redor. Ver também “Neurociência e como se formam
os valores religiosos em nossos cérebros”. (1)
Todos
os nossos sentimentos e emoções foram selecionados através da
evolução não deixando a espécie humana se extinguir aqui na
Terra. E existe uma base sólida de conhecimentos atuais, da
Neurociência com A Teoria da Evolução, para tanto: ver os meus
artigos "O Porquê dos Nossos Sentimentos" (2) e "O
Porquê dos Nossos Sentimentos - 02". (3)
No
reino animal existe o instinto de sobrevivência, o instinto de
autopreservação, pelos quais os animais respondem a alguma agressão
do meio ambiente ou de outros animais, para sobreviverem. As
primeiras formas de vida na Terra, seres unicelulares, por volta de
3,6 bilhões de anos, já apresentavam alguma forma de reação de
autopreservação, como, por exemplo, a capacidade de se afastarem de
uma fonte de calor. A crescente complexidade, no tempo, dos seres
vivos, só foi conseguida através da seleção de comportamentos
complexos para lidarem com meios ambientes novos ou em transformação.
E assim também se selecionou sistemas nervosos com cérebros.
Podemos
pensar o seguinte: de seres unicelulares até os mais complexos da
atualidade, nós, os humanos, a natureza selecionou, de atos reflexos
para reações de sobrevivência, comportamentos simples, até o
sistema nervoso mais complexo existente para dotar-nos da maior
variabilidade de comportamentos possíveis para a nossa
sobrevivência. Nosso sistema nervoso é portador do órgão mais
complexo dos seres vivos com os mecanismos superiores da
inteligência, emoções, sentimentos e a consciência: o nosso
cérebro.
A
variedade de comportamentos através da inteligência, produzida pelo
cérebro, nos faz adaptarmos a qualquer ambiente terrestre. E a
consciência também entra nessa história.
Por um lado, apenas com um exemplo, ela está presente em nossas ações facilitando decisões junto à inteligência: "irei sair de carro agora pois se não poderei pegar chuva e onde vou fica muito difícil para o meu carro." Um raciocínio simples mas veja a consciência em (eu) irei, (eu) poderei, (eu) vou e (mim) meu carro. Quatro vezes!
Por um lado, apenas com um exemplo, ela está presente em nossas ações facilitando decisões junto à inteligência: "irei sair de carro agora pois se não poderei pegar chuva e onde vou fica muito difícil para o meu carro." Um raciocínio simples mas veja a consciência em (eu) irei, (eu) poderei, (eu) vou e (mim) meu carro. Quatro vezes!
Pode-se
considerá-la na inteligência como uma unificadora de ideias, fatos,
objetos concretos ou não, etc., formando um todo coerente, o
pensamento, de uma forma sintetizada e rápida, um catalisador. E
ainda essa união possibilita a formação de raciocínios complexos
imprescindíveis na formação de tecnologias, que, sem elas, nunca
chegaríamos ao nosso mundo de hoje.
E
quanto às relações conosco mesmo e com o mundo que nos cerca?
Quero dizer, dúvidas, preocupações, questões existenciais? Sobre
nós, a morte, a razão de viver e sobre o bem e o mal. Irei até enumerá-las:
1
- Nós: "Quem sou eu? O que sou eu? O que faço aqui neste
mundo? Por que estou aqui? Há uma finalidade?"
2
- A morte: "Para onde vou após a morte? Por que ela existe?
Voltarei? Por que uns morrem primeiro a outros independente de tudo?
Depois dela há vida em outro lugar?
3
- Viver: "Qual o sentido da vida? Por que vivemos? Para que
vivemos? Existe uma finalidade; se sim, qual seria?
4
- Existe o bem mas por que existe o mal? Qual seria a razão dele
existir? E a respeito dele nos problemas em nossas relações sociais
como as agressões, traições, homicídios, guerras, etc.?
Foi
assim desde o primeiro humano...
Mas
será que para o cérebro humano, um órgão tão avançado como ele
é, produtor de tanta variedade em termos comportamentais, bastariam
apenas alguns mecanismos de defesa, de autopreservação,
agressividade – a qual nessa altura já é uma emoção para
preservar a espécie que o contém? Não. Foi necessário algo muito
mais refinado, avançado também: o amor-próprio. Ele seria o ápice
de um sistema necessitado de conservação, proteção, etc., ou
seja, tudo ligado ao corpo e a ele mesmo para sobreviver. Talvez não
seja mesmo por acaso a relação: animais sem consciência - instinto
de sobrevivência; animais conscientes (humanos) - instinto de
sobrevivência + amor-próprio. Note a frase “eu me amo”:
amor-próprio com o “eu” da consciência.
E
a fé do título deste blog?
Existe
uma confusão muito grande com respeito à fé e às crenças. As
pessoas acham que só existe a fé se houver crenças religiosas, mas
alguém pode não possuir crenças e ter fé, fé em si mesmo, no
próprio potencial, em sua vida, etc. A fé é uma convicção,
confiança, um sentimento de total crença em algo ou alguém, ainda
que não haja nenhuma evidência comprovando a veracidade da
proposição ou causa. Com relação ao acreditar, primeiro você
acredita, depois coloca a sua fé!
As
religiões são um conjunto de ideias e crenças, surgidas em um
local específico no planeta - uma região, um povo, etc. -, ensinadas
às crianças desde cedo. Há variações em interpretações das
ideias, das próprias crenças com o passar do tempo, há divisões,
há expansões para outros povos, etc.; e você sabe, seriam
necessárias bibliotecas e mais bibliotecas gigantescas para conter
tantas informações e conceitos criados pelo ser humano nesse
sentido. Mas algo é certo: os sentimentos das pessoas são canalizados para as crenças das suas religiões locais e
essas crenças se tornam verdades absolutas para cada uma das
pessoas. Elas passam a ter fé nos entes e nos ensinamentos dessas
religiões, nos valores religiosos. É o relativismo religioso. (4)
Mas
por qual razão surgiram as ideias e crenças de cada povo?
Precisei
discorrer sobre amor-próprio, consciência, transcendência e fé para chegar onde eu
queria, um conjunto de circuitos neurais atuando em muitas áreas
cerebrais.
Como
um ser inteligente, consciente de si e do mundo a sua volta, e dotado
de amor próprio, iria lidar com as questões enumeradas mais acima?
Acredito em uma dificuldade séria ao cérebro a não funcionar
direito.
A
partir do momento no qual o cérebro dos pré humanos se tornou o
mais próximo do nosso, ele teria, penso eu, ter na combinação de
consciência e amor-próprio, a fé e o poder de transcendência, de
conseguir abstrair entes divinos e formular crenças, de conceber uma
"vida após a morte", etc., com a propriedade de ter fé
neles, de acreditar com uma grande dose de carga emocional. A
consciência e o amor-próprio talvez iriam causar um impasse à
evolução do nosso cérebro e esse conflito seria, em grande parte
ou em um todo, resolvido com a presença do acreditar, da fé e da transcendência a formular crenças.
Uma moderna Teoria da Evolução compreende acrescentar os nossos processos cognitivos, sentimentos e emoções, como fatores favoráveis a um
cérebro em eficiente funcionamento.
Os mecanismos neurais aos quais me refiro na "Introdução" são aqueles ligados à fé, à capacidade de formularmos crenças, juntos também com a capacidade de abstração, de pensarmos em níveis transcendentais para qualquer propósito.
Junto ao acreditar e a fé estão também a motivação e a esperança, entrando nesse contexto como verdadeiros motores a nos impulsionar todos os dias aos nossos objetivos, que nada mais são do que a nossa sobrevivência como indivíduos e também a sobrevivência da espécie humana.
Os mecanismos neurais aos quais me refiro na "Introdução" são aqueles ligados à fé, à capacidade de formularmos crenças, juntos também com a capacidade de abstração, de pensarmos em níveis transcendentais para qualquer propósito.
Junto ao acreditar e a fé estão também a motivação e a esperança, entrando nesse contexto como verdadeiros motores a nos impulsionar todos os dias aos nossos objetivos, que nada mais são do que a nossa sobrevivência como indivíduos e também a sobrevivência da espécie humana.
P.S. (25-10-2019): em 2018, António Damásio publicou o livro "A estranha ordem das coisas" com os seguintes dizeres: (5)
"...A medicina primitiva não tinha condições de cuidar dos traumas da alma humana. Mas é possível supor que, em grande medida, crenças religiosas, sistemas morais e justiça, assim como a governança política, tivessem por fim lidar com esses traumas e facilitara recuperação de suas consequências. A meu ver, o surgimento das crenças religiosas guarda uma relação muito estreita com o luto da perda de entes queridos, que forçou os humanos a confrontar a inevitabilidade da morte e os incontáveis modos como ela pode ocorrer: acidentes, doenças, violência perpetrada outros e por catástrofes naturais, qualquer coisa exceto a velhice uma condição rara em tempos pré-históricos. Muitos traumas da alma humana eram infligidos por acontecimentos públicos no espaço social, e as crenças religiosas eram respostas apropriadas em vários aspectos.
A resposta a perdas e ao luto causado pela violência variava e, dependendo do indivíduo, incluía empatia e compaixão, mas também raiva e mais violência. É compreensível que o pesar tenha sido compensado por uma concepção adaptativa de poderes sobre-humanos, na forma de deuses capazes de resolver grandes conflitos e violência em alto grau. Em um período animista nessas culturas, provavelmente pedia-se aos deuses não apenas ajuda para os sofrimentos pessoais, mas também proteção contra a propriedade pessoal e comunitária - plantações, animais de criação, território vital. Mais tarde, no caso de culturas monoteístas, a crença nessas entidades por fim assumiria a forma de um único Deus capaz, por exemplo, de explicar perdas em termos justificáveis e até mesmo aceitáveis. Por fim, a promessa de continuidade da vida após a morte poderia anular totalmente os efeitos negativos de quaisquer perdas e trazer-lhes outro significado...".
Damásio fala em termos gerais, antes de chegar ao Deus cristão, a respeito das crenças sendo, todas elas, favoráveis ao bem-estar humano. Ele não entra no relativismo religioso mas sabe que todas as religiões, crenças que não se tornaram religiões, etc., foram e são fundamentais a nós, mesmo diferentes entre si. É o relativismo religioso na minha visão. (6)
Sem pretensão, mais uma vez minhas ideias são muito parecidas com as dele, como eu digo no meu artigo "O porquê dos nossos sentimentos: sobre ideias e conclusões que cheguei antes de António Damásio" (7)
.
Referências:
.
1
– Argos Arruda Pinto. Neurociência e como se formam os valores
religiosos em nossos cérebros. 2017. Disponível em: < https://argosarrudapinto.blogspot.com/2017/02/neurociencia-e-como-se-formam-os.html
>.
Acesso em: 04/10/2018.
2
– Argos Arruda Pinto. O porquê dos nossos sentimentos. 2001.
Disponível em: < https://sistemaevolucaoneurociencia.blogspot.com/2008/01/o-porqu-dos-nossos-sentimentos_28.html
>.
Acesso em: 04/10/2018.
.
3
–
Argos
Arruda Pinto. O porquê dos nossos sentimentos – 02. 2002.
Disponível em: < https://sistemaevolucaoneurociencia.blogspot.com/2008/01/o-porqu-dos-nossos-sentimentos-ii.html >.
Acesso em: 04/10/2018.
4 - Argos Arruda Pinto. O Relativismo Religioso como eu o vejo: as muitas diferenças entre as religiões
< https://orelativismodasreligioes.blogspot.com >
5 - DAMÁSIO, A. A estranha ordem das coisas: as origens biológicas dos sentimentos e da cultura. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. p. 202-203.
6 - Argos Arruda Pinto. O Relativismo Religioso como eu o vejo: as muitas diferenças entre as religiões
< https://orelativismodasreligioes.blogspot.com >
7 - Argos Arruda Pinto. O porquê dos nossos sentimentos: sobre ideias e conclusões que cheguei antes de António Damásio. 2014. Disponível em: < https://argosarrudapinto.blogspot.com/2014/03/ >. Acesso em: 25/10/2019.
< https://orelativismodasreligioes.blogspot.com >
5 - DAMÁSIO, A. A estranha ordem das coisas: as origens biológicas dos sentimentos e da cultura. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. p. 202-203.
6 - Argos Arruda Pinto. O Relativismo Religioso como eu o vejo: as muitas diferenças entre as religiões
< https://orelativismodasreligioes.blogspot.com >
7 - Argos Arruda Pinto. O porquê dos nossos sentimentos: sobre ideias e conclusões que cheguei antes de António Damásio. 2014. Disponível em: < https://argosarrudapinto.blogspot.com/2014/03/ >. Acesso em: 25/10/2019.