Todos sabem que as práticas religiosas fazem bem às pessoas. São muitos os testemunhos, comentários, conversas de parentes, amigos, pessoas em geral, por experiência própria, etc., os quais sempre possuem algo de positivo a dizer sobre tais práticas e seus resultados.
Talvez você não seja religioso, mas
não importa, mesmo se achar que essas práticas não lhe servem, conhece a
importância delas na vida de muita gente. E se for religioso irá procurar no
sobrenatural esperanças, alívio de sintomas emocionais negativos, paz interior,
ou seja, uma enorme gama de resultados positivos e benéficos a sua vida.
Seja qual for a religião, as práticas
religiosas relacionadas aos valores religiosos dela mesma serão benéficas aos
seus adeptos. E como se sabe disto? Com apenas um argumento será suficiente:
ninguém vê uma fuga em massa de adeptos de uma religião, em números expressivos
em relação ao total dessa religião. Por exemplo, nós não vemos no Cristianismo,
o maior do planeta, com aproximadamente 2,4 bilhões de adeptos, ter milhões ou,
melhor dizendo, dezenas, centenas de milhões de pessoas mudando para outra
religião em poucos meses, que seja. Conhecemos pessoas trocando de religião,
mas é um número muito pequeno em comparação ao total de seguidores. A fuga a
qual me refiro denotaria insatisfação, decepção, e o principal: algum problema
sério a respeito dos valores religiosos dessa imensa religião. Na realidade
isso beira a um delírio porque ele não cresceria tanto se não fosse tão
benéfico. Nenhuma outra religião com muitos seguidores também. E mesmo as
menores, salvo exceções.
As religiões promovem um melhor
entrosamento entre as pessoas de um grupo, pequeno ou não, e muitos cientistas
publicam há muito tempo sobre elas, e não só a uma, influenciando na
sobrevivência de grupos humanos no planeta em todas as épocas. Fatos a ver com
a sobrevivência individual e também de integrantes dos grupos humanos. A
Evolução também chegando ao social pela via religiosa!
Eles dizem sobre fatos óbvios mas que
são de grande importância aqui, para depois eu levantar questões de também
importância na Neurociência. Cito três deles:
1 - "A religião em geral tem
efeitos positivos na saúde física e mental ... as religiões tendem a ser
pró-natalistas e mais pessoas religiosas tendem a deixar mais descendentes do
que pessoas menos religiosas ou não religiosas ... o grande mundo de religiões
que evoluíram no primeiro milênio a.C. durante um período de grande caos social
e perturbação, enfatizou um Deus onipotente e transcendente de amor e
misericórdia, que ofereceu a salvação em uma vida pós celestial e indivíduos
libertados do sofrimento terreno ...". (1)
2 - "A religiosidade é um
universal humano, que oferece respostas às questões de contingências [ Natureza
do que acontece de modo eventual, incidental ou desnecessário, podendo ter
ocorrido de outra forma ou não se ter efetivado] A religiosidade, portanto,
pode ser dividida em duas questões: a saber, as questões levantadas como
resultado da experiência com as contingências e, em segundo lugar, a resposta a
essas questões através da ideia de transcendência ... Uma dissonância cognitiva
entre a compreensão de si mesmo e do mundo é vivenciada como uma contingência.
A contingência pressupõe que os humanos não considerem mais a realidade
garantida. Uma vez que os humanos experimentaram eventos surpreendentes, não
rotineiros e inesperados, e uma vez que sentimentos de medo e esperança emergem
e possivelmente começa a busca por uma âncora para o evento contingente no
conhecido mundo consistente, isso pode sinalizar religiosidade ... Existem
inúmeras respostas possíveis para as questões levantadas por experiências de
eventos contingentes." (2)
3 - "Pensamentos religiosos ...
reduzem as taxas de crimes e aumentam o comportamento altruísta entre estranhos
anônimos", dizem os professores de Psicologia Ara Norenzayan e Azim F.
Shariff da "University of British Columbia" do Canadá na revista
"'Science'". (3)
Com toda a população de crentes no
mundo inteiro, mesmo com aqueles praticantes não assíduos no que acreditam, o
número de ateus é significamente menor que todos os habitantes do planeta. Digo
isto para entrarmos no conceito genérico de "acreditar". Ele não
compreende apenas os valores religiosos. Você acredita no seu potencial a
exercer um novo cargo em seu trabalho. Que irá se recuperar logo de uma doença
e voltar a sua vida normal. Ele é geral e inato ao ser humano. Nascemos com
ele; está em nossas mentes e quase nem refletimos sobre essa condição muito
forte de nossa natureza. Se alguém diz não acreditar em nada, já pensamos nos
valores religiosos ou mitos dos mais estranhos possíveis; ele é ateu mas
acredita em si próprio, no próprio potencial para viver uma vida saudável e
feliz, nos mostrando como o conceito de acreditar é geral, forte.
Quanto às questões religiosas,
primeiro se acredita nos valores para depois se exercer a fé. Se coloca fé
naquilo no que se acredita e não necessariamente só nos valores religiosos, mas
também em si próprio como no caso do "acreditar" do ateu, sendo outro
alicerce em nossas vidas mentais.
O acreditar e a fé estão ligados à
esperança, aos nossos sonhos, sentimentos e emoções. Não é possível conceber
uma pessoa sem a capacidade de "acreditar" e digo assim de modo geral
e não só para alguém não acreditando na religiosidade. Eles estão dentro dos
nossos cérebros e não é possível extirpá-los de nós, não os termos, a não ser,
possivelmente, em casos patológicos.
Nas profundezas dos nossos cérebros,
precisamente em circuitos neuronais com suas reverberações, simplificando o
raciocínio, o "conceito" de Deus está presente junto a sentimentos,
emoções, ideias de como Ele é, onipresente, onipotente e onisciente, pela
imaginação de um crente Nele, etc. Mas... Esses mesmos circuitos estão
configurados no cérebro de um hinduísta mas de modo diferente porque, senão, o
hindu acreditaria e teria o mesmo "conceito" do Deus cristão!
Cristãos e hinduístas foram ensinados diferentemente pelos pais, nos seus meios
ambientes sociais porque essas duas religiões são diferentes, e, por
conseguinte, acreditam e colocam fé em valores religiosos diferentes. Então
seria impossível haver ao mesmo tempo deuses diferentes e valores diferentes
também. E as outras religiões e também outras que já se extinguiram? Sim, e a
saída a esse impasse seria admitir a veracidade de uma só. Mas então
voltaríamos à pergunta: por que todas são benéficas aos próprios adeptos? Em
minha opinião, e é aquilo sempre escrito por mim, os valores estão fortemente
arraigados nos cérebros de cada adepto de todas as religiões, possuindo muita
força quando evocados em orações, pensamentos, rituais, etc., não existindo, na
realidade, entes divinos e todos os valores relacionados a eles. O fato é
somente cerebral, a energia do cérebro desprendida e não oriunda do
sobrenatural e sim na concentração no que se acredita e põe fé!
Seria o conceito filosófico da
Navalha de Occan válido aos meus argumentos? Ela que diz ser a resposta mais
simples ser a verdadeira? Pois bem, de todas as épocas, a "criação"
de milhões de deuses e dezenas ou centenas de milhões de outros valores
religiosos, sem exageros, não poderiam ser substituídos por apenas um
"conceito"? O cérebro humano? Deixo esta questão em aberto.
Acredito em um futuro de muitas
discussões entre as religiões e a Neurociência, conforme esta for pesquisando e
descobrindo sobre o que há nas "profundezas cerebrais" do segundo
parágrafo anterior.
E, conforme o argumento: "A
religiosidade contribuiu com a nossa sobrevivência como espécie humana citados
nos exemplos de um a três", eu pergunto: existiriam religiões, crenças e
sistemas de crenças se não fossem o acreditar e a fé? Lógico que não! Eles
seriam vantagens evolutivas? Na minha opinião sim e, antes que eu começasse a
ler artigos similares aos citados, escrevi um texto de nome "O acreditar e
a fé como vantagens evolutivas", (2.a) mas relativo a problemas
existenciais oriundos de questionamentos da nossa inteligência e consciência.
Esses problemas levariam a outros de ordem emocional, comprometendo a nossa
sobrevivência, algo como no item dois. Um tema em nível individual mas
certamente causando problemas aos grupos sociais.
O acreditar e a fé realmente produzem
comportamentos benéficos aos próprios religiosos e às suas relações dentro de
um grupo. Como exemplo, uma pessoa rezando "O Pai Nosso" está
exercendo a fé em Deus pois acredita Nele, e ainda existe o compromisso social
na frase "perdoai as nossas ofensas, assim como perdoamos a quem nos
tenham ofendido", sendo o perdão um ato de grande benefício entre pessoas.
Assim, rezando em casa, na igreja ou no templo frequentado, é um comportamento,
ritualístico.
E se alguém disser que houve muitas
mortes devido às religiões através de homicídios, atentados, conflitos,
guerras, etc., digo da ignorância, intolerância, incompreensão, contra às quais
não podemos fazer quase nada, apenas lutar contra. De qualquer maneira, em 1850
éramos por volta de 1,7 bilhões de pessoas no mundo. E hoje, a despeito de
todas as guerras, catástrofes naturais, homicídios, doenças, etc., de lá para
cá, somos mais de 7,5 bilhões.
As forças evolutivas estão vencendo.
Somos mais eficientes do que ratos!
Notas:
(1)
Sanderson, S. K. (2008). Adaptation, evolution, and religion.
https://www.researchgate.net/.../228344844_Adaptation....
(2) Soeling,
C. & Voland, E. (2002). Toward an evolutionary psychology of religiosity.
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/12496740.
(2.a) Pinto, A. A. (2008). O
acreditar e a fé como vantagens evolutivas.
https://orelativismodasreligioes.blogspot.com/.../o-acred....
(3) Shariff,
A. F. & Norenzayan, A. (2008). The Origin and Evolution of Religious
Prosociality.
https://www.science.org/doi/abs/10.1126/science.1158757....