terça-feira, 15 de abril de 2025

Neurociência, Psicologia, Psiquiatria e a Teoria Memética da Religião

A teoria memética da religião, que vê as crenças e práticas religiosas como "memes" (unidades de informação cultural) que se propagam e evoluem, tem recebido atenção e críticas de várias áreas científicas. Aqui está um resumo da situação atual, com foco nas perspectivas da psicologia, neurociência e psiquiatria:

Psicologia:

  • Relevância Contínua: A ideia de que elementos culturais, incluindo os religiosos, podem ser transmitidos e sofrer seleção cultural ainda é relevante na psicologia. Muitos psicólogos reconhecem que os memes podem ajudar a explicar a persistência e a disseminação de certas crenças religiosas.

  • Integração com a Psicologia Evolucionista: Alguns psicólogos tentam integrar a memética com a psicologia evolucionista, argumentando que os memes religiosos que exploram as predisposições psicológicas humanas (por exemplo, a tendência de detectar agentes, buscar significado e conformar-se a grupos) têm maior probabilidade de se espalhar.

  • Foco em Mecanismos Cognitivos: A pesquisa psicológica se concentra cada vez mais em identificar os mecanismos cognitivos que facilitam a transmissão de memes religiosos. Isso inclui o estudo de como as crenças religiosas são codificadas na memória, como são comunicadas a outros e como influenciam o comportamento.

Neurociência:

  • Bases Neurais da Transmissão de Memes: A neurociência está começando a fornecer insights sobre as bases neurais da transmissão de memes religiosos. Estudos de neuroimagem mostraram que certas áreas do cérebro são ativadas durante experiências religiosas, e essas mesmas áreas também estão envolvidas no aprendizado social e na transmissão de informações culturais.

  • Memes e Plasticidade Cerebral: A pesquisa sobre plasticidade cerebral sugere que a exposição a memes religiosos pode moldar a estrutura e a função do cérebro ao longo do tempo. Isso pode explicar por que as crenças religiosas podem ser tão profundamente arraigadas e resistentes a mudanças.

  • Emoção e Memes Religiosos: A neurociência enfatiza o papel crucial da emoção na transmissão de memes religiosos. Memes que evocam emoções fortes, como medo, alegria ou admiração, têm maior probabilidade de serem lembrados e transmitidos.

Psiquiatria:

  • Memes e Saúde Mental: Na psiquiatria, a teoria dos memes tem sido usada para entender como crenças disfuncionais ou prejudiciais, incluindo algumas crenças religiosas, podem se espalhar e persistir. Embora a religião possa ter efeitos positivos sobre a saúde mental para muitos, certas crenças ou práticas religiosas podem contribuir para o sofrimento psicológico em alguns indivíduos.

  • Memes e Psicopatologia: Alguns psiquiatras exploraram o papel dos memes na etiologia de certos transtornos mentais. Por exemplo, ideias ou crenças obsessivas podem ser vistas como memes que "infectaram" a mente e são difíceis de erradicar.

  • Abordagem Biopsicossocial: A psiquiatria moderna adota uma abordagem biopsicossocial da saúde mental, reconhecendo a interação complexa de fatores biológicos, psicológicos e sociais. A teoria dos memes pode contribuir para essa abordagem, fornecendo uma estrutura para entender como fatores culturais, como crenças religiosas, podem influenciar a saúde mental.

Críticas e Debates:

Apesar de suas contribuições, a teoria memética da religião também enfrenta críticas:

  • Falta de Evidências Empíricas: Alguns argumentam que há poucas evidências empíricas para apoiar a ideia de que os memes são unidades discretas de informação que se replicam de forma semelhante aos genes.

  • Reducionismo: A teoria dos memes pode ser vista como reducionista, pois simplifica fenômenos culturais complexos, como a religião, a unidades de informação.

  • Determinismo: Alguns críticos se preocupam com o fato de a teoria dos memes implicar um certo determinismo, sugerindo que os indivíduos são simplesmente veículos passivos para a replicação de memes.

Conclusão:

A teoria memética da religião continua sendo um tópico de debate e pesquisa nas áreas de psicologia, neurociência e psiquiatria. Embora a teoria tenha suas limitações, ela fornece uma estrutura útil para entender como as crenças religiosas se propagam e persistem. Pesquisas futuras que integrem insights dessas diferentes disciplinas podem ajudar a refinar e fortalecer nossa compreensão da relação complexa entre religião, cultura e mente humana.

sábado, 12 de abril de 2025

Cristianismo, Hinduísmo e Islamismo: qual deles é correto na explicação do surgimento do universo?

Nosso universo atual, seja lá como ele surgiu, apareceu ou "nasceu", foi de apenas um modo e só.  


Aqui trata-se não apenas de acreditar, de fé, pois ele é físico, material e de energias, e, dadas milhares ou milhões de pessoas acreditando cada uma em uma forma de como ele surgiu, seguindo suas religiões ou não, apenas uma estará certa. 

 

Sem querer mexer com as crenças de qualquer religião, não adianta cada uma acreditar na possibilidade que diz a sua própria, porque poderá estar errada. Mas os seguidores acreditam e pronto! Nada mais a dizer: as religiões possuem respostas a tudo, mesmo com muitas diferenças entre si. 

 

Pelo cristianismo, Deus, único, onipotente, onipresente e onisciente, criou o universo, começando pela luz. 

Já o hinduísmo afirma na criação e destruição do universo, com um intervalo entre estas duas situações, pelos deuses Brahma, Vishnu e Shiva, respectivamente. 

No islamismo, a criação e destruição do universo estão profundamente ligadas à vontade de Allah, o único e onipotente criador. Segundo o Alcorão, o livro sagrado, Allah criou tudo a partir do nada. 

 

Um está certo e os outros dois errados? Sim, mas então se desprezaria todas as criações com respeito às outras religiões não citadas aqui. E agora? 

 

Por que então um deus apenas ou vários deuses, se fossem esses os criadores de tudo, inclusive a nós, não criariam o universo, e, em qualquer ponto do planeta e em todas as épocas, pessoas, ao evocarem o sobrenatural, não apareceria em suas mentes esse deus ou deuses, sempre? 

 

Talvez aqui entremos no conceito da Navalha de Occam. É um preceito filosófico que diz, ao se tentar resolver um problema, a solução é a explicação mais simples. De tantas religiões e, principalmente crenças, tentando explicar não apenas o universo, mas também os seres vivos e nós humanos, a solução mais simples é a de que eles são frutos do cérebro, da mente humana. 

Existem ainda alguns filósofos da religião, como Richard Swinburne, filósofo britânico e professor emérito de filosofia na Universidade de Oxford, que utilizam justamente da navalha de Occam para defender a existência de Deus.  

 

Inclusive, utilizam a física para isso. Em linhas gerais, muito mal explicadas, eles dizem que o Universo é tão finamente calibrado para existir vida, que a hipótese de Deus criar um universo com esse fim é mais simples do que a hipótese extremamente improvável de uma calibragem fina se dar ao acaso ou termos um número gigantesco, ou mesmo infinito, de muitos Universos e nós vivemos naquele único capaz de suportar a vida, mas a grande maioria não é. 

Isto me parece uma tentativa quase desesperadora de alguém comprometido com uma universidade tão famosa e importante como Oxford. 

  

Pensar em uma simples criação de algo tão poderoso como um deus ou deuses é realmente fácil de conceber, como uma fada madrinha dotada de uma vara de condão, mas o problema é a própria “definição”, “natureza” etc., deles, sendo infinitamente maior, ou incognoscível, de qualquer tentativa da ciência em explicar esses problemas. 

 

 

Palavras-chave: Cristianismo, Hinduísmo, Islamismo, universo, criação, vida 

terça-feira, 8 de abril de 2025

O materialismo na ciência: emergentismo e reducionismo

Observação: este pequeno texto serve para qualquer grupo ou página de ciências em geral.

O materialismo é uma visão filosófica que sustenta que a matéria e a energia são as substâncias fundamentais da realidade. Em outras palavras, tudo o que existe é composto de matéria e energia, e os fenômenos (como consciência e emoções) podem ser explicados em termos de interações materiais e energéticas.
Na ciência há dois tipos principais de materialismo:
1 - Materialismo Reducionista
Defende a ideia que as propriedades de um todo são a soma das propriedades de suas partes.
2 - Materialismo Emergentista
Postula que propriedades novas surgem quando a matéria se torna mais complexa. São as propriedades emergentes, presentes principalmente em sistemas complexos, como na evolução do universo, na origem dos seres vivos e do ser humano.
Neste caso pode-se considerar que o todo é maior que a soma das suas partes.
Estes dois modos de ver a natureza afirma que tudo pode ser entendido e explicado por meio de processos naturais, leis naturais, energias e fenômenos emergentes, sem a necessidade de intervenções sobrenaturais ou metafísicas. Na realidade são praticamente iguais, já que nenhum dos dois admite um universo onde forças, agentes, etc., provém do sobrenatural, imaterial ou transcendental.
O que acho impressionante nos debates entre criacionistas e evolucionistas, os primeiros se fixam nas limitações do reducionismo, sequer mencionando os sistemas complexos e as propriedades emergentes. E olhe que já vi cientistas, poucos, mas convictos, defensores do criacionismo, citar as propriedades emergentes como algo ilusório, uma "mágica" não existente na natureza!

sexta-feira, 28 de março de 2025

O valor religioso como um valor neural

Um adulto conta uma história a uma criança enferma sobre algo muito bom e poderoso curando outra criança com a mesma doença.

Ela cresce ouvindo falar desse "algo" em muitas situações, de pessoas a lugares, de pessoas próximas e até desconhecidas, na sua casa, na escola e até brincando com outras.
Muitos fatos positivos estão relacionados com esse "algo" em sua memória até que em um dia, naturalmente, por alguém ou algum fato, sentimentos se encontram com esse "algo".

Ela passa a gostar dele e não só isso: aprende a colocá-lo em sua própria vida, a buscar nele respostas a certos enigmas de sua existência, do mundo, das relações sociais, amorosas, etc.
Aprende ainda a falar com ele, pedir, orar para o bem, seja ao presente ou ao futuro.

O terá acessível em qualquer momento ou local, se sentirá ótima quando sempre com ele.
Na realidade, durante todo o tempo, e de até antes da história da cura, circuitos neurais se modificavam, novos dendritos se formavam, a neuroplasticidade tinha lugar em muitos sítios do seu cérebro.

Realmente solidificaram muitas informações com sentimentos e emoções nessa pessoa a ponto de ajudá-la em muitas situações. Formou-se um valor religioso dentre outros relacionados a esse "algo".

Você já percebeu que esse "algo" é Deus, o maior valor religioso do cristianismo, assim como existem outros valores de outras religiões e que são diferentes.

Na verdade, tudo isso não significa que eles existam realmente: são produtos da imaginação das pessoas via ensinamentos despertando sentimentos e emoções, tendo muita força quando evocados em orações e práticas religiosas. Por isso a existência de muitas religiões em todas as épocas e lugares do planeta.

De valores religiosos a valores neuronais ou neurais.
De valor religioso a valor neuronal ou neural.

quarta-feira, 5 de março de 2025

Uma das grandes características da consciência humana:

Pense nas primeiras recordações da sua vida: seus pais, irmãos, a frente da sua casa, a sala, seu quarto, alguns amiguinhos, etc. O número é grande. 

Por volta dos quatro anos de idade é que tomamos contato não apenas com lembranças assim, mas algo também profundo. Era você quem via, interagia com tudo, ou seja, você era o "ator" da realidade à sua volta e de você mesmo onde estivesse. A sua consciência estava presente pela primeira vez na sua vida.
Você não apenas sabia, em termos lógicos, que era você, mas também sentia. Era um sentimento também junto a pensamentos e ideias lógicas sobre a pessoa ali, você dentro de você!

Você cresceu, passou por todas as fases da vida de uma pessoa, infância, adolescência, juventude, adulta e idoso. Seu corpo mudou muito desde então. Você passou por experiências de vida nunca imaginadas e outras sem importância alguma. O modo de como via e interpretava o mundo mudou também e várias vezes. Sua personalidade foi se formando, transformando, e você chegou à maturidade. Opiniões, sabores, ideias, atitudes, comportamentos, enfim, uma gama muito grande de fatores de quem era e é você hoje também mudou. Mas aquele sentimento e como você era é e nunca mudou... Ele continua intacto desde a sua infância. 

Sentimentos e emoções como produtos da evolução:

É um absurdo dizer que os nossos sentimentos e emoções não foram selecionados pela evolução, porque não existe nada em excesso, a mais, "sobrando", talvez com raríssimas exceções, pertencendo às nossas estruturas e funções, sendo a vida emocional e sentimental de nós humanos riquíssimas em detalhes e muito importante para nós.