Estamos na
Terra há aproximadamente 300 mil anos. Independente do quanto houve de
desenvolvimento da nossa inteligência nesse período, possuíamos um cérebro, no
mínimo, muito próximo ao nosso atual, dotado de consciência, emoções,
sentimentos e a própria inteligência.
Algo
interessante de se observar é que a grande diferença entre nós e os nossos antepassados
reside no fato de recebermos conhecimento "pronto", desde a infância,
sobre o mundo que nos cerca, sobre nós mesmos, a partir do nosso meio ambiente
social, principalmente dos pais e dos professores. Eles não; de poucas
informações passadas dos mais velhos para as crianças e jovens, havia um
universo muito grande de possibilidades a ser explorado na natureza.
Você
precisou descobrir sozinho, na infância, se a água a ser ingerida era suja ou
limpa? Você precisou, na adolescência, aprender fazer o fogo? É por isto que
perguntas assim são tolas: somos tão acostumados a receber conhecimentos
"prontos" que nem damos conta disto.
Mas o ser
humano não precisava saber apenas como fazer o fogo para se aquecer ou se
proteger de grandes animais. Ele, pela curiosidade e também até necessidade,
queria saber de onde viera a água, o chão, a chama vermelha e quente do fogo,
e, não só saber a respeito da natureza, mas também quem era ele, porque estava
vivo no próprio entender do que era estar vivo enquanto via pessoas morrerem...
Para aonde iam? Em termos de grupos de pessoas, queria saber como se relacionar
com elas, como melhorar a convivência de todos porque viviam em comunidades. E
aqui eu poderia fazer uma lista tão grande de conhecimentos, valores, regras, etc.,
para o ser humano viver bem, em todas as épocas e locais no planeta, que só
apenas estes exemplos dão para você notar o quão grande seria essa lista.
Outro
aspecto dessa busca incessante pelo conhecimento ocorria com algo também, acho
eu, pouco comentado pela literatura: de onde vinham os pensamentos, a
imaginação, as ideias criadoras de tantos conhecimentos, o raciocínio, etc.,
sendo tudo isto tão obscuro para eles que até hoje muitas pessoas não
acreditam, ou possuem uma enorme dificuldade de se atribuir essas atividades
apenas às interações entre neurônios e áreas cerebrais específicas?
A que
atribuíam toda a nossa atividade mental, que não era matéria comum, que não era
nada parecido com tudo que viam ao redor de suas existências? Ou, a quem atribuíam tamanha força mantenedora da
vida de todos?
E será que
os sonhos não os influenciavam a pensar na existência de outros mundos além
deste, em que saíam de seus corpos para se aventurarem neste e em outros planos
desconhecidos quando acordados? Ou então que entravam em contato com o
sobrenatural?
Em meu
artigo neste blog, "O
surgimento de uma religião como uma necessidade humana", eu falei apenas
da imaginação das pessoas de como poderia surgir a região local de onde
estavam. Aqui eu generalizo.
Já em outro
artigo também neste blog,
"As Bases de como eu vejo o Relativismo Religioso", na nota 01, eu
falo da relação entre a criação de objetos, utensílios, armas, etc., ou seja,
de tudo que os caçadores-coletores puderam criar com matéria-prima originada
nas plantas, argila, ossos de animais, etc., através dos elementos da natureza
impossíveis desses homens reproduzirem. Uma frase do artigo: "Faz parte da
nossa natureza humana, e isto não é novidade, de sempre perguntarmos de onde
veio tal objeto, quem construiu, como, para quê e muitos "etc." a
respeito de... tudo! Quem criou tudo?!". Este "tudo", no final,
também seria a matéria-prima e alguém ou algo muito poderoso a criou.
Se entes
divinos, ou um só, criou tudo, com homens e mulheres também, é razoável supor
que os antigos humanos pensassem que ele (s) fosse (m) muito poderoso (s), até
com respeito às mentes e a vida de todos. E aqui é o início das religiões
porque surgiram crenças e seitas no planeta todo, não só em um local, sobre
entes divinos no comando de... Tudo! Da estruturação dessas seitas e crenças
vieram religiões.
Mas entes
divinos poderiam também inspirar as pessoas sobre como e o que formularem com
respeito a regras sociais, valores, etc., porque estavam, segundo esses
antigos, em grande parte no comando dos seus cérebros.
Gosto de
pensar nos dez mandamentos da história do cristianismo formulados por Moisés.
"Não roubarás", "não matarás", "não levantar falso
testemunho", são três grandes exemplos de regras muito importantes para
grupos sociais. Ele esteve no monte Sinai e recebeu uma inspiração, diretamente
ou não, do seu deus segundo o cristianismo, para tanto. Em minha opinião foi um
trabalho de gênio que se retirou de todos para refletir e criar uma obra
perfeita para as pessoas religiosas em pequenas frases, relacionando regras e
valores com o deus criador dos homens, das mulheres e toda a natureza. E se
você pensar nos dez mandamentos sem as regras ligadas ao deus cristão, ele
ainda é perfeito como um conjunto de leis para qualquer sociedade, um grande
avanço para aquela época, naquela pequena região do planeta.
Para este
artigo denominado "A necessidade humana da religião", notamos que
para o surgimento de uma religião não se faz necessário apenas algumas crenças.
É preciso, já que se acredita em um deus absoluto, um conjunto de leis, regras,
rituais, valores religiosos, etc., pelo simples fato desse deus estar por trás
de tudo, permeando e influenciando todo um povo com necessidades de entender o
meio que o cerca, como lidar com o bem e o mal, como entender a origem de tudo,
o que e quem é o ser humano, suas origens, o fim e o que virá depois da morte,
o maior medo que a humanidade jamais enfrentou e enfrenta.
Difícil
englobar em um pequeno texto tudo o que é necessário para isto e muito mais, e,
portanto, falei mais em deus, deuses, valores sociais, enquanto que valores
religiosos eu explorei no artigo "Como se formam os valores religiosos em
nosso cérebro". E inventaram religiões para explicarem às pessoas, em
todas as épocas e lugares, infindáveis ensinamentos de todas as formas
possíveis. Por isto elas não são completamente iguais. Depende do local, da
cultura anterior e atual do povo, de fatos históricos, etc.
Por isto
mostrei em outros parágrafos, de modo bem resumido, um pouco do desenvolvimento
das religiões. O ser humano precisa de ensinamentos e orientações detalhadas e
aqui entra a necessidade da religião. Um assunto bem estruturado satisfazendo
às necessidades das pessoas, ao que pertence a elas, desde quando nascem:
lidarem com o potencial em acreditar no sobrenatural, de aprenderem o que
existe nele de útil para as suas vidas, algo de absoluto, tendo a fé como o
mais poderoso sentimento envolvido em todo esse processo.
Na verdade,
quando "o primeiro" ser humano surgiu na Terra, ele passou a olhar
para si mesmo e o mundo que o rodeava. E a partir daí percebeu que possuía um
enorme potencial para pensar e sentir muitas coisas. Desse ponto em diante a
influência do que ele imaginou ser o sobrenatural fez com que chegássemos até
hoje com algumas religiões de mais de um bilhão de adeptos.
Mas... Pelos
avanços da Neurociência, que digo nos meus textos sobre o Relativismo
Religioso, a fé e o acreditar no sobrenatural são produtos de reações
físico-químicas como um recurso da evolução, para um cérebro dotado de
consciência e amor-próprio, não sofrer consequências desastrosas com problemas
emocionais oriundos de questões existenciais, etc., de tudo já mencionado neste
texto e nos outros que escrevi.
Então, como
ficamos? Algo é certo: a humanidade passou dezenas, centenas de milhares de
anos sem saber dessa influência das atividades neuronais porque nunca, e isto é
óbvio, conheceram a Ciência em um nível como o de hoje. Só do século passado
para cá foi possível examinar os fenômenos biológicos responsáveis pela nossa
racionalidade mencionada no quinto parágrafo, "de onde vinham os
pensamentos, a imaginação, as ideias criadoras de tantos conhecimentos, o
raciocínio, etc.", e, complementando, as emoções e os nossos sentimentos.
Como eu
disse no primeiro artigo de Neurociência que escrevi, "A Base Material dos
Sentimentos", também na nota 01, acredito em uma revolução científica e
filosófica afetando as religiões, porque, de uma alma ou espírito, criando
nossos sentimentos e a nossa racionalidade, a Ciência descobre atualmente algo
além de tudo que nós humanos imaginávamos até hoje.
- Nota
01:
PINTO, A. Arruda. A Base Material
dos Sentimentos. Cérebro&Mente, Campinas. Número 12, fev./abr. 2001.
Disponível em:
http://www.cerebromente.org.br/n12/opiniao/sentimentos.html.
Acesso em: 06. 10. 2013.
PINTO, A. Arruda. A Base Material
dos Sentimentos. Sistemas, Teoria da Evolução e Neurociências. Disponível em: http://sistemaevolucaoneurociencia.blogspot.com.br/.
Acesso em: 06. 10. 2013.
-
Outros textos meus como base para este assunto:
“O porquê dos nossos sentimentos” – Cérebro&Mente
- http://www.cerebromente.org.br/n14/opinion/material3.html - Acesso em: 06. 10. 2013. E em Sistemas, Teoria da
Evolução e Neurociência -http://sistemaevolucaoneurociencia.blogspot.com.br;
“O porquê dos nossos sentimentos - II” – Cérebro&Mente - http://www.cerebromente.org.br/n15/opiniao/sentimentos2.html. Acesso em: 06. 10. 2013. E em
Sistemas, Teoria da Evolução e Neurociência - http://sistemaevolucaoneurociencia.blogspot.com.br;
“Consciência, amor-próprio, fé e
transcendência – A moderna Teoria da Evolução” - http://coamoprofetrans.blogspot.com.br/ ;
“Por que existe o amor? A explicação
científica é a verdadeira” -- http://nepsicoreli.blogspot.com.br/ ;
“O acreditar e a fé como vantagens
evolutiva” -- http://finalizacaoargos.blogspot.com.br/;
“Sistemas, Teoria da Evolução e
Neurociências” -- http://sistemaevolucaoneurociencia.blogspot.com.br/ ;
“Neurociência e consciência” - http://neuconblog.blogspot.com.br/ ;
- E
todos os artigos deste blog.
Nenhum comentário:
Postar um comentário