quarta-feira, 23 de julho de 2014

Alma ou substâncias químicas?

Uma pessoa está com depressão; sentimentos autodestrutivos podem levá-la ao suicídio e um antidepressivo faz com que ela retome a alegria de viver. Agora, com energia, vitalidade, se sente feliz e recomeça a própria vida quase perdida pelo lado escuro onde essa doença se abateu sobre ela. Onde está a alma ou um espírito beneficiando essa pobre pessoa? Podemos pensar em três possíveis fatos:

1 - O remédio não fez efeito nenhum; a alma foi o que restaurou os sentimentos positivos após um certo tempo;

2 - O remédio ajudou a alma a recuperar os sentimentos positivos  “perdidos” em sua mente;

3 - Não existe alma e o remédio efetuou o trabalho sozinho.

Pessoas morrem de inanição se a depressão tirar o apetite e elas não procurarem um médico. O próprio estado debilitado do indivíduo poderá ceder lugar a doenças infecciosas. Por que o espírito demoraria a agir? Falta de fé? Mas se nem a pessoa possui vontade, energia, para orar ou algo assim… O primeiro item é descartado.

Se um remédio, junto ou não com outros, ajudaram o espírito na recuperação, então algo está errado. O médico receita um medicamento esperando que a alma faça o resto? Que poder divino tem ela? Isto faz voltarmos praticamente ao primeiro item. Também o segundo item é descartado.

Resta-nos o terceiro item que me parece mais razoável. Se o nosso cérebro fosse influenciado por uma alma, ela não seria absoluta em qualquer fenômeno psíquico, não se precisando de nenhum remédio como está escrito nos itens “1” e “2”? 
E o que menos se sabe em nossa sociedade é que a depressão é uma doença, tratável com medicamentos. Alguns dizem que antidepressivos é remédio para loucos, em profunda ignorância com o que existe por aí em termos de informações em medicina. Outros chegam a dizer que são porcarias e usam drogas e/ou álcool para amenizarem os sintomas. Grande ignorância.

Em meu artigo “A base material dos sentimentos” (http://www.cerebromente.org.br/n12/opiniao/sentimentos.html), na revista eletrônica Cérebro&Mente (www.cerebromente.org.br), eu destaco justamente esta influência dos remédios em nossas mentes, no papel decisivo do equilíbrio da química cerebral influenciando nossos estados emocionais.

Ali também eu digo em uma possível revolução filosófica-científica pois tudo que passaram para nós em conhecimentos até o século XX foi que o espírito é algo absoluto e responsável por tudo o que ocorre em nossos cérebros. Aí entram os pensamentos, pensamentos lógicos, imaginação, enfim, toda a nossa racionalidade também.

O cérebro é considerado o sistema mais complexo que conhecemos. Se uma alma ou espírito o comandasse, seria necessário tanta complexidade?

Nos anos 80 eu vi apenas umas três vezes na mídia a expressão “sistema límbico”, que é a principal região cerebral responsável pelos nossos sentimentos e emoções. Hoje aparece em bulas de remédios e até em capas de revistas. Que continue assim.

sábado, 19 de abril de 2014

Esclarecimento sobre a fé para os meus artigos

Escrito em: 19/04/2014. 
Revisado em: 28/12/2018. 

"A fé é um sentimento puro, mas canalizada aos valores religiosos próprios da religião a qual o fiel pertence, aprendidos desde criança." (autoria minha) 
.
:::::
   
Quando uma pessoa diz possuir fé, ela se refere ao Deus cristão. Sou brasileiro, escrevo na língua portuguesa do Brasil, meu país, onde a grande maioria das pessoas, quase 90%, (1) são cristãs, e, outras, com menos adeptos, acreditam e/ou aceitam Deus como parte de suas próprias crenças, como, por exemplo, a Umbanda. Então, é evidente para você, possível brasileiro, ou mesmo uma pessoa de outro país ocidental ou não, mas cristão, que a primeira frase acima é até inútil em se dizer. Fala-se em fé, fala-se no Deus cristão. E sabe a razão? Devido ao absolutismo religioso presente no meio ambiente social das pessoas. 

Escrevo sobre o oposto ao absolutismo, o relativismo, sendo este primeiro levando qualquer adepto a se, for perguntado se possui fé, dizer sim sobre o (s) deus (es) da própria religião, das próprias crenças religiosas. Os hindus ao grande número de deuses como Brahma, Vishnu, Shiva, Ganesha, etc., os islâmicos ao poderoso Alá, e assim por diante. 

Esta é a fé existente, "por definição", em cada país, para cada povo, etc., mas, não a única em meus artigos. A "outra" é isenta de religião ou crenças porque me refiro à nossa capacidade natural, inata conosco, na qual, conforme os valores religiosos vão se formando na mente das  pessoas, (2)  pela influência do meio ambiente social, educação, etc., elas direcionam suas energias ao (s) ente (s) divino (s) e crenças aprendidas junto a ele (s). É como pensar na fé como uma extensão do acreditar: primeiro você acredita nos valores religiosos. É um sentimento. Depois você passa a, dizendo de forma prática, dar crédito, confiar, ter convicção, orar por um ente divino ou mais (se a religião da pessoa for politeísta), orar pelos poderes associados a essas crenças, etc. 
.
Assim, em todas as épocas e lugares, seres humanos criaram histórias, inventaram crenças, dogmas, tentaram explicar muitos fatos naturais ou do cotidiano com ideias sobrenaturais, nos quais os conjuntos delas se tornaram seitas e/ou religiões. Veja então que a fé é um sentimento em cima de conceitos criados, e, portanto, relativos, nada tendo de absolutos, pertencentes a cada povo e perpetuados nas memórias das pessoas desde quando crianças.    
.
E aqui abro um parênteses: só agora temos a capacidade de vermos o cérebro em detalhes; a neurociência está mostrando muitos fenômenos aos quais o ser humano atribuía ao espiritual, e, agora, aos poucos, vão se revelando como pura modificação da matéria e energia comuns (quando as pessoas praticam assiduamente a religião, a meditação e/ou as terapias), ou seja, no cérebro, mesmo elas acreditando em um sem número de crenças. Essas crenças são apenas algo do imaginário (transmitidas às pessoas) se conseguindo (todos conseguimos) colocar uma boa dose de fé e acreditar, e, com muita disposição e esforço mental, melhorar sintomas emocionais, doenças, etc. 
E a história vai além porque costumo dizer: se alguém não possui fé em crenças religiosas, seitas e religiões, ela terá e tem a capacidade inata de acreditar em si mesma, outro grande sentimento citado em diversos artigos meus. 

Você verá nos meus textos as minhas citações sobre a fé e até um artigo inteiro denominado "O acreditar e a fé como vantagens evolutivas" (3) me referindo, simplificadamente, à frase "o que é absoluto no ser humano é o poder de ter fé e acreditar". O resto vem depois...
  
Certa vez um jovem, ao ler alguns artigos meus, disse não possuir fé, não acreditando em nada, e, por isso, achava os meus argumentos e textos errados porque ele era diferente, no qual as minhas ideias não seriam válidas. Respondi o seguinte: "mas você acredita em si próprio, sentimento ligado à motivação para viver, ter uma vida digna.  Você faz parte de uma pequena minoria junto à grande maioria das pessoas acreditando e possuindo fé no sobrenatural". Nesses assuntos importa o que acontece com a maioria das pessoas e não às exceções. A mente da grande maioria das pessoas, considerando-se também em todas as épocas da história da humanidade no planeta, possuem e, respectivamente, possuíam mecanismos cerebrais levando-os a ter sentimentos, incluindo o acreditar e a fé. O acreditar, pelo absolutismo religioso, leva as pessoas a terem fé apenas no que é transmitido por ele desde a infância delas. 
.
   
Referências:
 
1 - Diversidade religiosa é marca da população brasileira. Governo do Brasil - Censo IBGE 2010. Artigo escrito em 2018. Disponível em: < http://www.brasil.gov.br/noticias/cidadania-e-inclusao/2018/01/diversidade-religiosa-e-marca-da-populacao-brasileira >. Acesso em: 28 dez. 2018. 
.
2 - Argos Arruda Pinto. Neurociência e como se formam os valores religiosos em nosso cérebro. Disponível em: < http://neurorreligacao.blogspot.com.br/2017/04/neurociencia-e-como-se-formam-os.html >. Acesso em: 28 dez. 2018.  
.
3 - Argos Arruda Pinto. O acreditar e a fé como vantagens evolutivas. Disponível em: < http://finalizacaoargos.blogspot.com.br/2008/02/o-acreditar-e-f-como-vantagens.html >. Acesso em: 28 dez. 2018. 

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O Relativismo Religioso no dia a dia das pessoas (e outros fatos...)

Observação: nesta postagem eu mostro situações pelas quais presenciei ou fiquei sabendo através de amigos. Ela mostra como as religiões e seus dogmas, crenças, etc., são, na realidade, relativos ao meio ambiente social (incluo o cultural) das pessoas, que não são absolutas como se pensa. Não existe uma religião absoluta, "dona" da verdade.

Acrescentarei experiências minhas conforme irei presenciando ou vivendo.



- "Certa vez a Igreja Católica tentou pôr fim à ciência da destruição. Um papa do século XII baniu a tecnologia de ponta das guerras da época - a besta: o arco com apoio para a flecha. Essa máquina que mata mecanicamente, disse ele, não é cavalheiresca. Contudo, não via problemas em que ela fosse usada contra pagãos, como os muçulmanos." [Que respeito a outras religiões, hein? RS].

Smith P. D. Os homens do fim do mundo: o verdadeiro dr. Fantástico e o sonho da arma total. São Paulo Companhia das Letras, 2008. p. 119.



- A Praça da Sé, em São Paulo - SP, é um verdadeiro reduto de pastores evangélicos e candidatos a pastores pregando ao ar livre de manhã até à noite. Certo dia parei para escutar um que dizia: "Entrei em uma Igreja Católica só para ver... Só para ver! Estava escrito em uma das paredes 'Nossa Senhora Mãe de Deus'. Quer dizer que Maria é mãe de Deus? Isto se chama blasfêmia". O Relativismo Religioso acontece até em fatos sem maiores consequências, porque, ao meu ver, dizer Deus ao invés de Cristo é puro modo de falar. E ele pregava em terreno da Igreja Católica, da Catedral da Sé, o que poderia ter gerado muita discórdia e até brigas.

- Filho de um amigo meu, oito anos, disse para um colega nosso: "Não existe Deus; existe Ogum".

- Um brasileiro bastante religioso, cristão, foi à Índia. Conheceu pessoas, almoçou com eles e, de repente, uma bebida alcoólica fora servida e tinha o nome, ao se traduzir para o português, de "Deus". Ele ficou indignado, reclamou com o garçom, que nada fez, e nem os amigos. Mas um amigo indiano veio ao Brasil e lhe foi oferececido uma cerveja da marca BRAHMA. Será que o brasileiro, ou outros, se incomodou em saber que essa bebida tem o nome de uma das mais importantes divindades da Índia? Creio que não. 


- Certa vez eu estava com um amigo indo para o Metrô Sé na famosa praça de mesmo nome. Paramos próximo à estátua de Paulo, o apóstolo, para decidirmos aonde iríamos. 

Aí chegou um senhor bem vestido, bem apessoado, simpático, parecendo chinês ou coreano, de uns 55 anos. Ele perguntou desta maneira, com sotaque: "Quem, quem é este?". Aí entendi tudo e no mesmo instante expliquei resumidamente: "O nome dele é Paulo, foi amigo (eu não poderia dizer apóstolo porque complicaria) de Jesus, o principal 'personagem' do livro sagrado "Bíblia" de todos os cristãos, religião deles". O homem ficou olhando admirado, com um sorriso no rosto e perguntou de novo: "Foi ele quem construiu aquela igreja?", apontando para a catedral. Daí eu completei: "Não, Paulo viveu há dois mil anos atrás e esta igreja foi construída no começo do século passado". Então ele agradeceu a informação, não querendo ser mal educado prolongando a conversa e foi embora.

Na Coreia do Sul o budismo é predominante. Existem cristãos, mas ele não era... Se chinês, seria ateu, confucionista ou taoísta, predominantes lá.

Para ele não importava quem eram Jesus e Paulo, a Bíblia, o cristianismo, porque fora educado em outra cultura. Daria para falar que ele era um homem infeliz por isto? Toda a China ou a Coreia por  isto? Todas as famílias de lá por ensinarem doutrinas, dogmas, etc., de lá? Não!

Experimente dizer a um homem desses que ele pertence a uma religião que não ensina as coisas certas e que o cristianismo é o correto. Ele dirá que o cristianismo é quem não ensina nada correto.

Quem estará certo, quem estará errado? 

Isto é o Relativismo Religioso.

- Um amigo meu, neto de japoneses, foi para o Japão para trabalhar e viver por lá no ano de 1990.

Seis anos depois pessoas comentaram comigo: "Argos, o Sérgio disse umas coisas estranhas do Japão: que no dia 24 de dezembro não há Natal, ceia, presentes, árvores enfeitadas e que no dia 25 não é feriado". Elas não me falaram do provável erro daquele país em não ser cristão. Ou achavam que todo o planeta era cristão. 

No Japão, o Xintoísmo possui mais da metade da população em adeptos, seguido do budismo, que não é bem uma religião e mais uma filosofia de vida. O cristianismo lá não ultrapassa 2%!

E  vejam a falta de consciência de muitas pessoas: neste caso que citei, elas talvez nem soubessem das divisões das religiões pelo mundo. Tenho certeza que não entenderiam o Relativismo Religioso porque foram ensinadas, doutrinadas a acreditarem no cristianismo.



quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Frases:

- "A melhor explicação, ou única, para se entender a enorme quantidade de crenças religiosas,  sistemas de crenças e religiões, desde as que existiram e não existem  mais, e as atuais, somando milhões, dezenas de milhões delas, seria a criação pelas nossas mentes, nossas necessidades por explicações existenciais, do mundo que nos cerca, do bem e do mal, enfim, explicações inclusive quando não temos mais controle de situações ou porque são deficientes,  lembrando que para a nossa imaginação não há limites" (autoria minha);

- "Em todas as épocas e lugares do planeta, onde se reuniam dezenas ou centenas de pessoas formando comunidades crescentes em números de pessoas ao longo de décadas ou centenas de anos, surgiram naturalmente crenças e sistemas de crenças, incluindo "fatos" sobrenaturais, a respeito de tudo sobre as suas condições de vida, e até uma possível pós vida de todos, consideradas verdadeiras, absolutas, mesmo sendo muito diferentes entre si, em relação a quaisquer crenças de outros povos" (autoria minha);

- “A crença forte só prova a sua força, não a verdade daquilo em que se crê” - Nietzsche;

- "Você acreditaria que existe um deus com corpo de homem e cabeça de elefante? Até riria disso não é verdade? Mas ele é um dos deuses mais cultuados do hinduísmo, o Ganesha. Além de tudo é por ele que se alcança prosperidade, dinheiro. Mas vá para a Índia e diz às pessoas que no livro mais sagrado do ocidente está escrito que a mulher surgiu da costela de um homem... Relativismo puro" (autoria minha);

- "Amigo meu, evangélico, apareceu em uma igreja que não a dele, com uma Bíblia de baixo do braço e pedindo orientações para a vida dele. Um pastor disse assim: 'Jogue fora esta sua Bíblia e use a daqui'. Até dentro dos evangélicos existe relativismo";

- Por que as pessoas não nascem com Deus na cabeça, como nascem com os cinco sentidos? Lógico, tem que ensinar, porque senão acreditariam e dedicariam suas vidas a outras religiões para eles ensinadas" (autoria minha);

- "As religiões inventaram uma ótima forma de controle para os adeptos não questionarem nada, não duvidarem ou criticarem das suas crenças fundamentais, sob o risco de serem expulsas, o que é feio perante a sociedade, ou até de serem mortas: a blasfêmia" (autoria minha);

- "Deus, para a grande maioria das pessoas, é o dinheiro. Mas elas farão de tudo para dizerem que não" (autoria minha);

- "Os cientistas são capazes de produzir visões ou a sensação de transcendência espiritual com o estímulo artificial de certas áreas do cérebro." - Michael Shermer - Psicólogo - USA - Universidade de Indiana;

- "O ser humano prefere acreditar que conhecer. É mais fácil." (autoria minha há vinte anos...);

- "Não evoluímos para duvidar ou ter visão crítica. Isso exige educação e reflexão. Crer é mais fácil." - Michael Shermer - Psicólogo - USA - Universidade de Indiana - Revista ÉPOCA - 13/01/2012 - 13:06 - Atualizado em 20/01/2012 - 11:44 - Acessado em 03/11/2013 - 13:21:

- "Existem 10.000 religiões. Espanta-me a arrogância de quem supõe que só uma crença seja correta em meio a tantas." - Michael Shermer - Psicólogo - USA - Universidade de Indiana;

- "[...] a convicção de que o pensamento mágico é o que basta para a compreensão do universo produz uma sensação de prazer. Ficamos felizes em imaginar que seres místicos, sejam eles deuses ou extraterrestres, se preocupam e cuidam de nós. Não nos sentimos sós." - Michael Shermer - Psicólogo - USA - Universidade de Indiana;

- "A neurociência identifica padrões de ondas cerebrais distintos que nos levam a criar crendices e a ter prazer na constatação de que temos respostas às nossas dúvidas." - Michael Shermer - Psicólogo - USA - Universidade de Indiana;

- "Em situações extremas, como as enfrentadas por quem está no limite da resistência física ou próximo à morte, o cérebro reage com a redução da atividade na área responsável pela consciência e o aumento em regiões ligadas à imaginação. Essa reação natural está na origem das alucinações." - Michael Shermer - Psicólogo - USA - Universidade de Indiana;

- [...] "Há vida após a morte? Quem criou tudo a nossa volta? Quem somos nós? Para onde vamos após a morte?" [...] "A odisseia do homem no planeta veio acompanhada de tentativas de respostas a questões como essas desde o dia em que ele mesmo tomou consciência de si próprio, e do mundo a sua volta. Quem sou eu, o que faço aqui e o que é tudo isto ao meu redor, quem é o outro, o que é certo ou errado, deu início a tudo o que viria depois: crenças, religiões, a ética, a moral, as regras de comportamento, etc." (autoria minha).

  

domingo, 6 de outubro de 2013

A necessidade humana da religião

Estamos na Terra há aproximadamente 300 mil anos. Independente do quanto houve de desenvolvimento da nossa inteligência nesse período, possuíamos um cérebro, no mínimo, muito próximo ao nosso atual, dotado de consciência, emoções, sentimentos e a própria inteligência.

Algo interessante de se observar é que a grande diferença entre nós e os nossos antepassados reside no fato de recebermos conhecimento "pronto", desde a infância, sobre o mundo que nos cerca, sobre nós mesmos, a partir do nosso meio ambiente social, principalmente dos pais e dos professores. Eles não; de poucas informações passadas dos mais velhos para as crianças e jovens, havia um universo muito grande de possibilidades a ser explorado na natureza.

Você precisou descobrir sozinho, na infância, se a água a ser ingerida era suja ou limpa? Você precisou, na adolescência, aprender fazer o fogo? É por isto que perguntas assim são tolas: somos tão acostumados a receber conhecimentos "prontos" que nem damos conta disto.

Mas o ser humano não precisava saber apenas como fazer o fogo para se aquecer ou se proteger de grandes animais. Ele, pela curiosidade e também até necessidade, queria saber de onde viera a água, o chão, a chama vermelha e quente do fogo, e, não só saber a respeito da natureza, mas também quem era ele, porque estava vivo no próprio entender do que era estar vivo enquanto via pessoas morrerem... Para aonde iam? Em termos de grupos de pessoas, queria saber como se relacionar com elas, como melhorar a convivência de todos porque viviam em comunidades. E aqui eu poderia fazer uma lista tão grande de conhecimentos, valores, regras, etc., para o ser humano viver bem, em todas as épocas e locais no planeta, que só apenas estes exemplos dão para você notar o quão grande seria essa lista.

Outro aspecto dessa busca incessante pelo conhecimento ocorria com algo também, acho eu, pouco comentado pela literatura: de onde vinham os pensamentos, a imaginação, as ideias criadoras de tantos conhecimentos, o raciocínio, etc., sendo tudo isto tão obscuro para eles que até hoje muitas pessoas não acreditam, ou possuem uma enorme dificuldade de se atribuir essas atividades apenas às interações entre neurônios e áreas cerebrais específicas?

A que atribuíam toda a nossa atividade mental, que não era matéria comum, que não era nada parecido com tudo que viam ao redor de suas existências? Ou, a quem atribuíam tamanha força mantenedora da vida de todos?

E será que os sonhos não os influenciavam a pensar na existência de outros mundos além deste, em que saíam de seus corpos para se aventurarem neste e em outros planos desconhecidos quando acordados? Ou então que entravam em contato com o sobrenatural?

Em meu artigo neste blog, "O surgimento de uma religião como uma necessidade humana", eu falei apenas da imaginação das pessoas de como poderia surgir a região local de onde estavam. Aqui eu generalizo.

Já em outro artigo também neste blog, "As Bases de como eu vejo o Relativismo Religioso", na nota 01, eu falo da relação entre a criação de objetos, utensílios, armas, etc., ou seja, de tudo que os caçadores-coletores puderam criar com matéria-prima originada nas plantas, argila, ossos de animais, etc., através dos elementos da natureza impossíveis desses homens reproduzirem. Uma frase do artigo: "Faz parte da nossa natureza humana, e isto não é novidade, de sempre perguntarmos de onde veio tal objeto, quem construiu, como, para quê e muitos "etc." a respeito de... tudo! Quem criou tudo?!". Este "tudo", no final, também seria a matéria-prima e alguém ou algo muito poderoso a criou.

Se entes divinos, ou um só, criou tudo, com homens e mulheres também, é razoável supor que os antigos humanos pensassem que ele (s) fosse (m) muito poderoso (s), até com respeito às mentes e a vida de todos. E aqui é o início das religiões porque surgiram crenças e seitas no planeta todo, não só em um local, sobre entes divinos no comando de... Tudo! Da estruturação dessas seitas e crenças vieram religiões.

Mas entes divinos poderiam também inspirar as pessoas sobre como e o que formularem com respeito a regras sociais, valores, etc., porque estavam, segundo esses antigos, em grande parte no comando dos seus cérebros.

Gosto de pensar nos dez mandamentos da história do cristianismo formulados por Moisés. "Não roubarás", "não matarás", "não levantar falso testemunho", são três grandes exemplos de regras muito importantes para grupos sociais. Ele esteve no monte Sinai e recebeu uma inspiração, diretamente ou não, do seu deus segundo o cristianismo, para tanto. Em minha opinião foi um trabalho de gênio que se retirou de todos para refletir e criar uma obra perfeita para as pessoas religiosas em pequenas frases, relacionando regras e valores com o deus criador dos homens, das mulheres e toda a natureza. E se você pensar nos dez mandamentos sem as regras ligadas ao deus cristão, ele ainda é perfeito como um conjunto de leis para qualquer sociedade, um grande avanço para aquela época, naquela pequena região do planeta.

Para este artigo denominado "A necessidade humana da religião", notamos que para o surgimento de uma religião não se faz necessário apenas algumas crenças. É preciso, já que se acredita em um deus absoluto, um conjunto de leis, regras, rituais, valores religiosos, etc., pelo simples fato desse deus estar por trás de tudo, permeando e influenciando todo um povo com necessidades de entender o meio que o cerca, como lidar com o bem e o mal, como entender a origem de tudo, o que e quem é o ser humano, suas origens, o fim e o que virá depois da morte, o maior medo que a humanidade jamais enfrentou e enfrenta.

Difícil englobar em um pequeno texto tudo o que é necessário para isto e muito mais, e, portanto, falei mais em deus, deuses, valores sociais, enquanto que valores religiosos eu explorei no artigo "Como se formam os valores religiosos em nosso cérebro". E inventaram religiões para explicarem às pessoas, em todas as épocas e lugares, infindáveis ensinamentos de todas as formas possíveis. Por isto elas não são completamente iguais. Depende do local, da cultura anterior e atual do povo, de fatos históricos, etc.

Por isto mostrei em outros parágrafos, de modo bem resumido, um pouco do desenvolvimento das religiões. O ser humano precisa de ensinamentos e orientações detalhadas e aqui entra a necessidade da religião. Um assunto bem estruturado satisfazendo às necessidades das pessoas, ao que pertence a elas, desde quando nascem: lidarem com o potencial em acreditar no sobrenatural, de aprenderem o que existe nele de útil para as suas vidas, algo de absoluto, tendo a fé como o mais poderoso sentimento envolvido em todo esse processo.

Na verdade, quando "o primeiro" ser humano surgiu na Terra, ele passou a olhar para si mesmo e o mundo que o rodeava. E a partir daí percebeu que possuía um enorme potencial para pensar e sentir muitas coisas. Desse ponto em diante a influência do que ele imaginou ser o sobrenatural fez com que chegássemos até hoje com algumas religiões de mais de um bilhão de adeptos.

Mas... Pelos avanços da Neurociência, que digo nos meus textos sobre o Relativismo Religioso, a fé e o acreditar no sobrenatural são produtos de reações físico-químicas como um recurso da evolução, para um cérebro dotado de consciência e amor-próprio, não sofrer consequências desastrosas com problemas emocionais oriundos de questões existenciais, etc., de tudo já mencionado neste texto e nos outros que escrevi.

Então, como ficamos? Algo é certo: a humanidade passou dezenas, centenas de milhares de anos sem saber dessa influência das atividades neuronais porque nunca, e isto é óbvio, conheceram a Ciência em um nível como o de hoje. Só do século passado para cá foi possível examinar os fenômenos biológicos responsáveis pela nossa racionalidade mencionada no quinto parágrafo, "de onde vinham os pensamentos, a imaginação, as ideias criadoras de tantos conhecimentos, o raciocínio, etc.", e, complementando, as emoções e os nossos sentimentos.

Como eu disse no primeiro artigo de Neurociência que escrevi, "A Base Material dos Sentimentos", também na nota 01, acredito em uma revolução científica e filosófica afetando as religiões, porque, de uma alma ou espírito, criando nossos sentimentos e a nossa racionalidade, a Ciência descobre atualmente algo além de tudo que nós humanos imaginávamos até hoje.


 - Nota 01:

PINTO, A. Arruda. A Base Material dos Sentimentos. Cérebro&Mente, Campinas. Número 12, fev./abr. 2001. Disponível em:

PINTO, A. Arruda. A Base Material dos Sentimentos. Sistemas, Teoria da Evolução e Neurociências. Disponível em: http://sistemaevolucaoneurociencia.blogspot.com.br/. Acesso em: 06. 10. 2013.


 - Outros textos meus como base para este assunto:

“O porquê dos nossos sentimentos” – Cérebro&Mente - http://www.cerebromente.org.br/n14/opinion/material3.html - Acesso em: 06. 10. 2013. E em Sistemas, Teoria da Evolução e Neurociência -http://sistemaevolucaoneurociencia.blogspot.com.br;


“O porquê dos nossos sentimentos - II” – Cérebro&Mente - http://www.cerebromente.org.br/n15/opiniao/sentimentos2.html. Acesso em: 06. 10. 2013. E em Sistemas, Teoria da Evolução e Neurociência - http://sistemaevolucaoneurociencia.blogspot.com.br;

“O poder dos sentimentos e das emoções” – http://opodsenemo.blogspot.com.br/;

“Consciência, amor-próprio, fé e transcendência – A moderna Teoria da Evolução” - http://coamoprofetrans.blogspot.com.br/;

“Psicologia evolutiva – Uma visão básica sobre o assunto” -- http://psicoevolutiv.blogspot.com.br/;

“Por que existe o amor? A explicação científica é a verdadeira” -- http://nepsicoreli.blogspot.com.br/;

“O acreditar e a fé como vantagens evolutiva” -- http://finalizacaoargos.blogspot.com.br/;

“Sistemas, Teoria da Evolução e Neurociências” -- http://sistemaevolucaoneurociencia.blogspot.com.br/;

“Neurociência e consciência” -  http://neuconblog.blogspot.com.br/;


 - E todos os artigos deste blog.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

O que é o Relativismo Religioso na minha visão

O Relativismo Religioso é o fato de que cada religião toma para si as suas verdades como absolutas, considerando as outras religiões como pagãs, ou seja, erradas, tomando como falsas ou sem propósito, as verdades de cada uma delas, os valores religiosos. Mas o que existe mesmo é uma relatividade em tudo que existe por aí, porque, então, qual delas estaria correta? O que é absoluto seria correto, mas todas se dizem absolutas!

Elas consideram os seus deuses como as suas maiores verdades absolutas. Mas veja que são diferentes:

1 - O deus cristão não é o mesmo que os deuses do hinduísmo Brahma, Vishnu e Shiva;
2 - Alá, o deus do islamismo não é o mesmo que o deus cristão e dos hindus;
3 - O casal de deuses criadores das ilhas japonesas, berço do xintoísmo, a religião oficial do Japão, Izanagi e Izanami, não são os mesmos de todos acima. E assim acontece com todas as outras religiões. Qual deus é o verdadeiro? É relativo, depende de locais, épocas, estruturas sociais, etc., de onde eles foram inventados, mas isto para cada uma das religiões. Um só mesmo não existe...

A predisposição religiosa dos seres humanos é uma predisposição transcendental com sentimentos e emoções. Aliás, este, é um conceito generalizado, entrando na formação de qualquer religião.

Explicarei em duas partes, I e II, uma com conceitos lógicos e outra com os sentimentos e emoções:

I - Temos a capacidade de pensar, elaborar, um ou vários mundos à parte do nosso, ou junto, e que pode ser "habitado" por entes de diversas formas e até sendo amorfos, ou só um ente mesmo, que influi, interage conosco e com tudo. Isto é a transcendência e não significa que acreditamos nesse (s) “mundo (s)”, mas, como temos um cérebro provido de sentimentos, emoções, acreditar, fé, etc., cairemos em II:

II – Para simplificar direi a respeito só a um ente divino. Esse ente considerado como divino, seria responsável por muitos fatos que ocorrem na vida das pessoas, na Terra, no universo, etc., sendo base de todas as crenças, seitas e religiões criadas pelos seres humanos até hoje. O deus cristão é o exemplo mais próximo de nós porque o cristianismo e as suas vertentes é a religião com mais adeptos em nosso mundo ocidental.

Na minha visão do Relativismo Religioso, a existência de sentimentos e emoções, com o acreditar e a fé, não implica que existe (m) ente (s) divino (s), mas sim uma capacidade do nosso cérebro em manter este estado de coisas para ele continuar "funcionando", trabalhando de modo satisfatório. Como digo em meus artigos, temos recursos neuronais possuindo a capacidade de dar margens a muitas crenças para os seres humanos lidarem com questões existenciais, sociais, etc.


E também pelo fato das crenças que conhecemos terem algumas similaridades, dá a impressão que existe o sobrenatural e que nós temos a capacidade de chegar até ele. Mas não, é justamente ao contrário: essas similaridades existem porque a condição humana na Terra sempre fora igual para todos os povos, em todas as épocas e locais: sobreviver. Então inventamos coisas parecidas, mas não iguais: as religiões, que variam de povo para povo. E aqui entram a Teoria da Evolução e a Neurociência.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

As bases do Relativismo Religioso como eu o vejo

O assunto Relativismo Religioso é bem complexo e se faz necessário  algo bem organizado, um esquema com declarações enumeradas, como tópicos, itens, sobre fatos científicos e ideias próprias, para um melhor entendimento do leitor.

Não encontro nada relacionado a ele em sites brasileiros e noto, sem ser pretensioso falta de compreensão por parte até daquelas pessoas acostumadas com os assuntos da neurociência, teoria da evolução e religiões, em conjunto.

Vejo fortes discussões em muitos sites da internet a respeito de dezenas, centenas de argumentos profundos a favor do cristianismo ou outras religiões, junto com as ciências ou não, mas, aqui, não se faz necessário compreender a fundo as crenças e os dogmas das religiões e sim os aspectos básicos de onde se fundamentam. Mas das ciências sim! Note que falo em religiões no plural porque este assunto não diz respeito somente ao cristianismo, como estamos acostumados a ele, porque é predominante em nosso mundo ocidental, mas com todas, com qualquer uma das religiões presentes no mundo todo e em todas as épocas.

Então eu digo:
  
1 – Possuímos a capacidade de abstração e uma das suas propriedades é a transcendência (I), onde conseguimos imaginar que exista um ou mais planos, mundo (s), junto (s) ou afastado (s) de nós, interagindo ou não conosco, embora podemos não acreditar que exista (m).

2 - Nesse (s) mundo (s) conseguimos imaginar, mas não acreditarmos se quisermos, em um ou mais ente (s) divino (s), criador (s) do (s) nosso (s) universo (s) e responsável por essas interações.

3 - Então, para uma pessoa, em termos gerais, de população, ela precisa ter a capacidade da transcendência para depois imaginar algum ou mais entes divinos. Estes três itens pertencem à função racional, lógica, do nosso cérebro, para os argumentos aqui, e, mesmo se houver sentimentos nesses processos, me preocuparei apenas e suficientemente com a racionalidade.

4 - Agora, nossos sentimentos e emoções serviram a nossa sobrevivência como espécie no planeta,  sejam eles individuais ou sociais.

5 - Eles vêm de interações físico-químicas sendo funções, funções orgânicas que produzem sensações.

6 - O acreditar e a fé (II) (A) são sentimentos, servem ao mesmo propósito do item 04, sendo duas sensações relacionadas entre si, possuindo uma diferença sutil entre elas. Uma pessoa pode acreditar em um (s) ente (s) divino (s), mas não ter, ou ter nele (s) pouca fé. A maioria das pessoas acredita e possui muita fé. Outros nem acreditam. Mas nós humanos, no mínimo, acreditamos em nós mesmos. Não fosse assim, nem levantaríamos da cama para lutarmos pelas nossas vidas.

7 - Qualquer ser no universo, dotado de sentimentos, emoções, inteligência e consciência, têm que possuir amor-próprio. Na verdade podemos pensar nele como uma extensão do instinto de sobrevivência dos outros animais, porque serve a um cérebro mais complexo, fazendo com que o ser humano não se destrua. Consciência como em nós humanos e amor-próprio andam juntas, como acredito para qualquer outro ser semelhante a nós.

8 - Então, que tipo de ser no universo, dotado de consciência e amor-próprio, mas sem a transcendência e do acreditar e da fé, não sucumbiria, devido a desequilíbrios emocionais, originados de questões profundas como as perguntas "de onde viemos, para onde vamos como espécie, qual o significado da vida, por que estamos aqui, e, a mais aterrorizante delas: o que existe e para onde vamos após a morte?". Afinal a consciência nos dá esta capacidade de questionamento e o amor-próprio, porque serve a nossa e a qualquer proteção própria, precisarão da transcendência e do acreditar e da fé para atribuir a entes divinos e todas as manifestações e realizações desses, para responder a essas questões e muitas outras, fora do controle de sua vida e da sua volta, em seu meio ambiente social e/ou natural. Não há outra saída...

9 - Mas veja, será então que a nossa mente/cérebro, possuiria a transcendência, o acreditar e a fé apenas como "amortecedores" naturais, nos enganando, pois não há o sobrenatural, para nos sentirmos aliviados de tantas questões cruciais? Acontece que aí  entramos no campo da abstração, sentimentos e da poderosa evolução, onde, acredito, possuem poderes para tanto porque está em jogo a perpetuação da espécie humana na Terra.

10 - Mas o que são em essência, a abstração, a transcendência, o acreditar e a fé, senão interações físico-químicas originados da nossa atividade neural com a liberação ou não de substâncias químicas como hormônios e neurotransmissores?

Conclusão:

De (I) - transcendência e (II) - o acreditar e a fé, temos que qualquer cérebro, consciente de si e com amor-próprio, terá que possuir estas propriedades para sobreviver a despeito de muitos questionamentos importantes, decisivos, que o levaria a ficar doente, comprometendo também a sobrevivência do próprio corpo, que o possui junto a ele.


Assim, em todas as épocas e lugares, seres humanos criaram histórias, valores religiosos, inventaram crenças, dogmas, tentaram explicar muitos fatos naturais ou do cotidiano com ideias sobrenaturais, em que o conjunto delas se tornaram seitas e/ou religiões. Veja então que a fé é um sentimento, uma convicção, em cima de conceitos abstratos relativos a cada povo, arraigados na mente das pessoas desde quando crianças.


Algumas religiões obtiveram mais adeptos, algumas delas mais adeptos em outras épocas. Mas, a base do que eu escrevo é que todas dizem serem elas absolutas, e as outras, pagãs, erradas.

Na verdade tudo é relativo. Não há religião com verdades absolutas. A única verdade absoluta no ser humano é que essa capacidade de transcendência e do acreditar e ter fé foram selecionadas pela evolução para o sistema nervoso central não entrasse em colapso. O ser humano não sobreviveria, mal deixaria descendentes, etc., com um cérebro defeituoso, confuso e perturbado, com verdadeiros delírios acerca das questões mencionadas no item 08. Ele tem que jogar, colocar nas mãos de ente (s) divino (s), junto com a criação de outros valores religiosos em que acredita com muita fé, para se estabilizar emocionalmente. Sempre foi assim. É uma das faces mais importantes, talvez a mais, da condição humana.


Considerações:


A - Ler "Esclarecimento sobre a fé para os meus artigos" - Neste blog: http://orelativismodasreligioes.blogspot.com.br/2014/04/esclarecimento-sobre-fe-para-os-meus.html

B - Veja que coloco as palavras "ente", "divino" e "criador" em minúsculas porque faço referência a todos os deuses de todas as religiões, sendo cristãs ou não, monoteístas ou politeístas, etc., pois este artigo é de caráter geral.

C - Não incluo dogmas, conceitos, crenças, etc., de nenhuma religião em particular, pois, repito, sendo este artigo de caráter geral, digo apenas ente (s) divino (s) porque ele (s) é (são) o (s) "centro (s)" de todas elas.

D - (24/06/2013): Faz-se necessário uma observação importante sobre o fato de que a grande maioria das religiões acredita em um ou mais criador (s) do (s) universo (s) a nossa volta e também de nós mesmos.

Será coincidência ou os nossos cérebros foram realmente projetados por um ente divino, ou vários, para acreditarmos no sobrenatural, nesse (s) próprio (s) ente (s)? Existem e existiram muitas crenças e religiões para acreditar nesta segunda questão. Se não, todos os seres humanos em todas as épocas acreditariam em um só ente divino ou em vários deles, especificamente iguais! Quem projeta não faz para confundir.

E sobre a coincidência?

Melhor analisar a condição humana da época em que éramos caçadores coletores até a formação das primeiras civilizações e entendermos muitos fatos que aconteciam no mundo todo. Coincidência seria simplificar demais.

Os humanos começaram a fabricar utensílios, armas, objetos decorativos, etc., e o faziam com matéria-prima do solo, de galhos de árvores, etc., mas também questionavam certos fatos.

Darei dois exemplos. (A'): uma fôrma de barro para armazenar água. Eles viam que esse objeto, avançadíssimo para a época e muito útil porque facilitava o uso direto da água, vinha de uma lama, de um local no chão, pertencente ao lugar onde estavam e, então, de onde veio esse local e tudo o mais em volta? Alguém fez o objeto. Mas alguém teria criado todo o resto. (B'): uma lança de madeira de um galho de árvore: também útil porque podiam caçar e abater animais grandes com mais facilidade. Mas eles notavam que as árvores cresciam do solo e que embora outras, maiores, parecessem não crescer, estavam fixas no solo. E de onde veio o solo? Tudo cria tudo, tudo provém de tudo e, óbvio, questionavam, todos os locais que conheciam vinham de algo ou alguém que os criara.

E as pedras tão úteis para rasgar couro, pele, carne, colocá-las nas pontas das lanças? Vinham de outras pedras ou do solo. Metais? De rochas com o uso do fogo oriundo do atrito de rochas especiais com folhas secas em que essas folhas eram de árvores e as rochas do solo, do chão.

Faz parte da nossa natureza humana, e isto não é novidade, de sempre perguntarmos de onde veio tal objeto, quem construiu, como, para quê e muitos "etc." a respeito de... Tudo! Quem criou tudo?!

Para mim é completamente natural pensar, supor que o ser humano vivia querendo respostas a respeito de tudo a sua frente, e, algo, era ainda mais perturbador: todas as pessoas vinham de uma mulher... Mesmo antes de saberem da importante parceria do homem para fazer um filho, de onde vinham as mulheres? De outras, que vieram de outras... E os homens vinham de mulheres. Alguém as fez lá no passado. Lógico que quando descobriram o valor do sêmen do homem, ainda ficava a questão: de onde vieram os dois? Alguém ou algo muito maior que eles teria feito, criado. Algo então poderoso, invisível porque realmente não viam nada, talvez criando o mundo também. Ou vários entes realizando cada um a sua obra.

Os caçadores coletores conheciam as leis da física, da química, da biologia, o DNA, a reprodução, etc.? Então, nada mais coerente pensar que criaram muitas histórias que se tornaram crenças, seitas e religiões.


E - (04/07/3013): Na primeira nota acima eu falo mais sobre a criação, de onde veio tudo que nos cerca e nós mesmos. Claro que religião não é só isto. Qualquer uma delas discorre sobre o bem e o mal e realmente estes dois conceitos são muito importantes, pertencentes as nossas vidas não só individuais como também sociais.

Considero como gosto de fazer, a análise primeira, primordial, ao que se referem estas duas concepções do meio ambiente, natural ou social, influindo em todos os seres vivos incluindo a nós, os humanos, fazendo uma ressalva do também importante estímulo interno como as doenças, defeitos congênitos, etc. Veja, uma substância química tóxica conseguindo vencer a barreira que uma membrana celular impõe, sendo um organismo unicelular ou não, é um mal, da mesma maneira que um assaltante com uma arma apontando a você e querendo a sua carteira. Ambos são estímulos negativos do meio ambiente que os cercam: mudam-se os protagonistas, os meios ambientes, as formas em que o mal age etc., mas a ideia é a mesma.

Então, desde que o primeiro ser vivo apareceu na Terra, há mais ou menos 3,8 bilhões de anos, ele estava na condição ambiental e de si mesmo em receber estímulos negativos e positivos. Foi assim mesmo quando do aparecimento das plantas pluricelulares, animais pluricelulares e até nós. Na verdade somos indivíduos sociais como outros animais e também daí vêm os estímulos positivos ou negativos do meio ambiente social. Nossa condição humana, sempre esteve, a mercê desses estímulos e a evolução agiu em todos os seres com esse fato.

Indo além, se algum (s) ente (s) divino (s) criou (aram) os primeiros homens e mulheres, ele (s) o (s) fez (fizeram), no mínimo, por amor, com carinho e cuidado. Mas aqui entra uma questão difícil de ser solucionada e que as religiões explicaram com muitas ideias diferentes: como colocar homens e mulheres em um mundo com estímulos positivos, mas...  Também negativos? Quem realizaria tal absurdo, com pessoas vivendo suas alegrias, felicidades, mas com muitos sofrimentos devidos a esses estímulos contrários, incluindo aqueles que os levariam à morte? Quem quer morrer? É aí que cada uma delas inventou uma maneira de explicar tamanha contradição.

No Gênese da Bíblia, o principal livro do cristianismo, Deus proibiu o homem e a mulher de comer do fruto da árvore proibida porque, caso contrário, seriam expulsos do paraíso de onde viviam. Eles experimentaram de uma fruta e pronto, eles e todos os descendentes passaram a viver com e sem dores, junto ao Bem e ao Mal em conjunto.

Para mim está clara a tentativa de explicação, a posteriori, de quem escreveu o Gênese, para, a partir de um Deus como a figura do Bem, se entender como as pessoas viviam  e vivem em locais, meios ambientes, muito diferentes de um paraíso...