terça-feira, 30 de dezembro de 2014

O Relativismo Religioso - Como eu o Vejo sendo uma forte evidência de que Deus não existe

“Em uma comunidade há milhares de anos atrás havia um sábio. Não era irmão, filho ou parente do líder, mas este o tinha sempre ao seu lado pois precisava da sabedoria do velho homem que conhecia as pessoas e a região onde moravam como ninguém: tempestades, as épocas de frio intenso, como ensinar aos mais jovens sobre conviver com as pessoas da comunidade, como apaziguar conflitos, etc.

O sábio falava sobre revelações que tivera muitos anos atrás a respeito de algo perturbador presente na grande maioria do povo dali: de onde viera tudo o que os cercavam? Rios, florestas, lagos e… eles próprios! Dos pais, avós, mas, quem  “surgiu” antes, os primeiros? E por que morriam? Por que não voltavam?

Dezenas, centenas de perguntas permeavam suas imaginações e isto os deixavam inquietos a ponto de ameaçarem a vida do sábio, do líder e, o que seria pior, a estabilidade da própria comunidade.

O velho homem, por sua vez, acalmava a todos devido às suas revelações onde um ente, algo muito diferente deles em forma, com muito poder, criou tudo à volta deles. Do chão ao céu, das águas às estrelas, para depois brilhar intensamente e se afastar  e vir a ser o astro que aparecia todos os dias a observá-los de uma distância que não conseguiriam alcançá-lo. Controlava as chuvas, o calor e o frio, enchentes e seca, etc. A natureza era dele. E sobre a vida de todos, o poder desse ente era total: determinava quem nasceria, morreria, salvaria de doenças ou não.  

Fora batizado de Creti por ele mesmo porque não dizia palavra alguma, apenas aparecia em sua imaginação e, para se referir a ele em suas histórias, o chamaria assim.

Existiam entidades divinas menores auxiliadores de Creti. Ora fariam uma ponte de comunicação entre ele e os homens, ora estariam à presença dos enfermos, ora à presença de reçém-nascidos, confortariam a todos os desvalidos; eram, enfim, servos às ordens do seu líder.

E Creti através do seu imenso poder de incitar a imaginação do sábio, passava a ele ensinamentos que serviam a toda a comunidade; ensinamentos como não praticarem o adultério, respeitar os mais idosos, viver em paz com a família, etc. Eram regras, leis, que o sábio fez questão de escrevê-las em papiros para todos terem acesso, e, mais: alguns cantos e orações de adoração a Creti faziam parte do conjunto de ensinamentos onde o sábio era o canal por onde tudo chegava às pessoas daquele povo.

Os costumes de pôr em prática esses ensinamentos eram benéficos a todos; uns mais, outros não, mas, proporcionavam esperanças àquela aldeia, sendo uma luz na vida de muitos. Confiança no velho homem, dedicação aos ensinamentos, etc., formavam um corpo sólido para a paz interior e de convivência daqueles homens e mulheres.

E havia discípulos onde todos esses ensinamentos passariam de pai para filho em uma continuidade sem fim. Havia homens com ideias contrarias mas por ter uma ótima oratória, ser convincente e estar ao lado do líder, os conhecimentos do sábio perpetuariam enquanto aquele povo se desenvolvesse, e, tornando-se uma civilização poderosa, influenciaria muitas outras, próximas ou longínquas. Haveria modificações nas escrituras, nas orações, etc., mas as ideias principais do velho homem se perpetuariam.”

Descrevo o surgimento de uma religião fictícia onde o leitor pode achar que faltam detalhes ou que não concorda com algo, mas disse em termos gerais e, tenho certeza, que o mesmo leitor, entenderá que é assim mesmo uma possível criação de algo dessa natureza. Para simplificar utilizei o monoteísmo embora a maioria das religiões até hoje foram e são politeístas.

Mas, digamos, que por questões várias, incluindo desejos de ver a comunidade bem, as pessoas mais felizes, experimentando o poder de controle e/ou influência, o sábio estivera mentindo todo o tempo sobre o estabelecimento dessas crenças. Com capacidade superior, sensibilidade, sabedoria, ele inventou o que seria o começo de uma religião obtendo mais poder na comunidade. Eu pergunto: em cima dessas crenças, alguém, se esforçando continuamente em concentração nas orações, cantos e rituais, não poderia melhorar a própria qualidade de vida, mexendo com o cérebro de maneira positiva? Afinal essa pessoa acredita e coloca muita fé no que sabe.

Por outro lado o sábio, acreditando e tendo fé, tinha certeza que tudo que passou para aquele povo era realmente a realidade revelada a ele por Creti. Ainda assim as práticas religiosas seriam benéficas a quem seguisse com determinação os ensinamentos.

Temos então duas situações. Na primeira, os valores religiosos das pessoas são falsos mas elas não sabem e acreditam no que realizam. Aqui acontece algo curioso: a carga emocional colocada nesses valores, fará que alguém, ao se esforçar continuamente em concentração nas orações, cantos e rituais, etc., poderia melhorar a própria qualidade de vida, mexendo com o cérebro de maneira positiva. Afinal estou falando de uma carga emocional muito grande.

Como posso afirmar algo assim? O Relativismo Religioso, como eu coloco neste blog.

Veja, atualmente existem mais de dez mil religiões¹, a maioria politeístas, mostrando que gente do mundo todo, sempre rezam, praticam rituais diferentes, adoram deuses diferentes, etc., e conseguem ajuda, a chamada ajuda  “espiritual”, necessária e suficiente a um bem estar, um modo de se ajudarem em seus problemas.

Mas qual religião é a correta? Cada religião se diz absoluta, onde as outras são pagãs, erradas. Mas se são erradas por que então também funcionam para os seus adeptos?  

Existem evidências, provas, que terapias e meditações, atuam no funcionamento de  áreas do cérebro, modificando estruturas e/ou no próprio modo como como funcionam, como eu digo nos meus artigos “A meditação como neuroreligação”² e “A psicoterapia como neuroreligação”.³ Por outro lado, em outro artigo, “Neurociência e como se formam os valores religiosos em nosso cérebro”,4 descrevo a formação dos valores religiosos onde não é difícil entendê-los como algo oriundo da educação e do meio social-religioso de cada um. Eu digo: "a partir da infância uma criança terá os seus sentimentos 'canalizados' a acreditarem nos valores religiosos. Valores passados pelos pais, amigos, parentes, a religião local, as escolas, etc., enfim, seu meio ambiente social”. E um valor é um conceito com sentimentos. Como um só exemplo,  a ofensa nas crenças das pessoas é algo forte, muito negativo, pois envolve sentimentos e emoções muito poderosos estabelecidos na cabeça delas desde crianças.   

É possível sim que práticas religiosas, fundamentadas em valores religiosos diferentes, levem as pessoas a uma melhora do bem estar. Mesmo sendo valores criados, imaginados como verdadeiros e absolutos, e, é aqui o ponto crucial do que escrevo: não é necessário que os valores existam no sentido de que podemos prová-los cientificamente, que existam realmente ; basta acreditar, colocar fé.

Utilizar o cérebro, evocando valores que não sejam reais mas que suscitam poderosos sentimentos e emoções, são uma terapia para o ser humano, modificam áreas e estruturas cerebrais.

Na segunda situação, o próprio sábio acha que são verdades tudo aquilo passado por ele através de Creti e o próprio Creti. Na realidade ele imaginou, teve insights, mas fora da cabeça dele, da inteligência, sensibilidade, etc., e, tornando-se valores, passou a acreditar como coisas absolutas, passando adiante às pessoas. Morreria por esses valores.

Aqui também acontece o mesmo como no parágrafo anterior ao de cima.

Se o sábio foi um mentiroso ou se agiu corretamente, o efeito da prática da religião que ele formulou será o mesmo para todos.

As religiões se dizem absolutas, com suas verdades sendo realmente corretas mas o que existe por aí é uma grande relatividade, por que, então, qual será a correta? E como se sai desta situação? O que existe de absoluto mesmo é o fato do ser humano possuir a capacidade de acreditar e ter fé em valores criados em todas as partes do mundo e em todas as épocas, pelo funcionamento cerebral, visando a sobrevivência da espécie. E para tanto deixo uma lista de artigos que escrevi a respeito:


1 - "O acreditar e a fé como vantagens evolutivas" - http://finalizacaoargos.blogspot.com.br


2 - "O meio ambiente social na formação das crenças religiosas" - http://meamsofocrre.blogspot.com.br/


3 - "Esclarecimento sobre a fé para os meus artigos" - 

4 - "O surgimento de uma religião como uma necessidade humana" - http://orelativismodasreligioes.blogspot.com.br/2008/01/o-surgimento-de-uma-religio-como-uma_11.html








Notas:


1 - GOSPELPRIME - NOTÍCIAS CRISTÃS ATUALIZADAS. Disponível em:


2 - “A meditação como neurorreligação”. Disponível em: http://neurorreligacao.blogspot.com.br/2016/10/a-meditacao-como-neurorreligacao.html . Acesso em: 19/04/2018


3 - “A psicoterapia como neurorreligação”. Disponível em:


4 - “Neurociência e como se formam os valores religiosos em nosso cérebro”. Disponível em: