segunda-feira, 29 de junho de 2015

Por que Deus não "nasce" junto nas cabeças das pessoas?

Escrito em: 29/06/2015.
Atualizado em: 10/09/2018.

Introdução. 
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Este artigo é de neurociência mas ligado com assuntos religiosos pois é uma introdução em um tema controverso, se os valores religiosos de cada religião, diferentes umas das outras, são ensinados para depois serem memorizados no cérebro através de um ponto de vista materialista ou se provêm naturalmente do sobrenatural, tendo um deus como causa inicial. Tanto a psicologia como a neurociência se defrontam com esse problema, mas deixo para o próprio leitor chegar a conclusões, opiniões sobre esse assunto embora eu o leve para o lado materialista.

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Título difícil deste texto. Dos muitos artigos escritos por mim sobre o relativismo religioso, (1) inclusive relacionando a um termo novo na neurociência, cunhado por mim, a neurorreligação, (2) este foi o mais complicado de se colocar um nome.
  
Nós começamos a ter consciência do mundo e de nós mesmos por volta dos quatro anos de idade; uns depois, outros antes, mas, na média, é nessa idade. 

Me lembro de duas casas onde moramos, eu e a minha família, em Guarujá, Estado de São Paulo. Havia meus pais e os meus irmãos também. Alguns vizinhos, minha casa, amigos, carros, praias, etc., e, eu! Sim, meu corpo, meus pensamentos e sentimentos, minhas primeiras lembranças da minha consciência junto também ao fato de que foi quando comecei a sentir a minha presença em ocorrências comigo e com as outras pessoas e/ou objetos. Mas não havia nenhuma ideia sequer de Deus, de nenhum valor religioso da Igreja Cristã, Católica, a qual passei a pertencer devido ao meu meio ambiente social, e, grave este conceito. Chamo de valor religioso a Deus, o Batismo, “Os Dez Mandamentos”, a Bíblia, a oração “Pai Nosso”, a oração “Ave Maria”, dentre outros. Por isto o título deste artigo foi difícil para mim: nada estava na minha mente relativa a qualquer religião ou valor religioso... Acredito o mesmo para todas as pessoas, em todas as épocas e no mundo inteiro, e, em todas as religiões...
  
Por volta dos seis anos percebi e imaginava alguns valores religiosos os quais os adultos comentavam entre eles e passavam a mim, de maneira simplificada, pois eu era muito criança. Uma árvore de Natal representando o nascimento de um homem muito bom nascido bem antes de mim; um local maravilhoso em tamanho, estátuas e pinturas, presenciado por mim devido aos meus pais me acompanhando onde era a igreja principal da cidade; amigos me falando de Deus sendo “algo” criador de tudo, inclusive nós, pessoas e a natureza, esta ainda tão pequena pois era apenas o quintal de casa. Era o meu ambiente social... Ele ensina ao mesmo tempo mostrando um mundo sendo a religião local absoluta perante as outras.

Por tudo isso eu disse que o título deste artigo foi difícil de criar. Nenhum valor religioso da Igreja Católica estava em minha cabeça quando criança. Mesmo o maior deles: Deus. Não havia indício de nada, nenhum conceito ou ideia de Deus. 

E por quê? Porque eu tive que ser ensinado! 

Seria o nome certo para esse artigo, “Por que os conceitos sobre Deus não existiam em nossas cabeças antes de nos ensinarem?”. Ou “Por que Deus não estava presente naturalmente em nossas cabeças quando éramos crianças?” E por aí vai...
  
Este artigo poderia ser uma introdução a um outro meu de nome “Neurociência e como se formam os valores religiosos em nosso cérebro”. (3)  Nele eu digo a respeito das informações sobre uma religião convertidas em valores quando elas se combinam com sentimentos. Quando informações estiverem intimamente relacionadas a sentimentos. Você, por exemplo, ao rezar o “Pai Nosso”, se “encontra”, digamos assim, com muitas emoções e sentimentos a mexerem no seu estado emocional e físico, produzindo e/ou liberando substâncias químicas em todo o seu corpo. Por isso se sente bem e rezar por muitas vezes, todos os dias, obterá resultados benéficos até por toda a sua vida. Entrar em contato direto com valores desse tipo, muito importantes porque estão arraigados em suas memórias, realmente alteram a fundo os interiores do seu cérebro. A neurociência pesquisa sobre essas influências, mas no momento ainda está engatinhando como também no sentido de procurar os valores morais em nossos sítios cerebrais.
       
Por enquanto eu falei no Deus cristão, mas, e nas outras religiões nas quais os deuses são diferentes, possuindo valores religiosos diferentes? Por exemplo, quais seriam as situações de crianças nascidas e criadas em outro país, em outros meios ambientes sociais, como a Índia, por exemplo? Eles são na maioria hindus, praticantes do hinduísmo, politeístas, e não acreditam no Deus cristão como os cristãos não acreditam nos muitos deuses deles, não nascidas também na cabeça das crianças… Nesse ponto tudo é relativo.

O ser humano nasce com a mente vazia de qualquer informação e, consequentemente, valores religiosos e também de valores morais. O fato de termos que ensinar - e nós também fomos ensinados - demonstra mais uma das faces do relativismo religioso. Ensina-se, surgem os valores religiosos e esses passam a ser considerados absolutos para as pessoas, mas, na realidade, cada povo, em suas regiões, acaba por acreditar em valores diferentes. Qual deles estará certo? Nenhum porque os valores religiosos e as religiões não são absolutos e sim relativos. E por que então fazem efeito como no exemplo de se rezar o “Pai Nosso”? Porque são memórias “carregadas” de emoções e sentimentos.


Nota:
 
Recomendo a leitura de outro artigo meu, “O paradoxo dos gêmeos religiosos” - http://orelativismodasreligioes.blogspot.com.br/2008/12/o-paradoxo-dos-gemeos-religiosos.html 


Referência: 

1 – Argos Arruda Pinto. O relativismo religioso – Como eu o vejo. 2007. Disponível em: < http://orelativismodasreligioes.blogspot.com/ >. Acesso em: 10/09/2018.

2 Argos Arruda Pinto. Neurorreligação. 2016. Disponível em: < http://neurorreligacao.blogspot.com/2016/10/neurorreligacao.html >. Acesso em: 10/09/2018.

3 – Argos Arruda Pinto. “Neurociência e como se formam os valores religiosos em nosso cérebro”. 2015. Disponível em: http://orelativismodasreligioes.blogspot.com.br/2017/04/neurociencia-e-como-se-formam-os.html >. Acesso em: 10/09/2018.