sexta-feira, 26 de julho de 2013

As bases do Relativismo Religioso como eu o vejo

O assunto Relativismo Religioso é bem complexo e se faz necessário  algo bem organizado, um esquema com declarações enumeradas, como tópicos, itens, sobre fatos científicos e ideias próprias, para um melhor entendimento do leitor.

Não encontro nada relacionado a ele em sites brasileiros e noto, sem ser pretensioso falta de compreensão por parte até daquelas pessoas acostumadas com os assuntos da neurociência, teoria da evolução e religiões, em conjunto.

Vejo fortes discussões em muitos sites da internet a respeito de dezenas, centenas de argumentos profundos a favor do cristianismo ou outras religiões, junto com as ciências ou não, mas, aqui, não se faz necessário compreender a fundo as crenças e os dogmas das religiões e sim os aspectos básicos de onde se fundamentam. Mas das ciências sim! Note que falo em religiões no plural porque este assunto não diz respeito somente ao cristianismo, como estamos acostumados a ele, porque é predominante em nosso mundo ocidental, mas com todas, com qualquer uma das religiões presentes no mundo todo e em todas as épocas.

Então eu digo:
  
1 – Possuímos a capacidade de abstração e uma das suas propriedades é a transcendência (I), onde conseguimos imaginar que exista um ou mais planos, mundo (s), junto (s) ou afastado (s) de nós, interagindo ou não conosco, embora podemos não acreditar que exista (m).

2 - Nesse (s) mundo (s) conseguimos imaginar, mas não acreditarmos se quisermos, em um ou mais ente (s) divino (s), criador (s) do (s) nosso (s) universo (s) e responsável por essas interações.

3 - Então, para uma pessoa, em termos gerais, de população, ela precisa ter a capacidade da transcendência para depois imaginar algum ou mais entes divinos. Estes três itens pertencem à função racional, lógica, do nosso cérebro, para os argumentos aqui, e, mesmo se houver sentimentos nesses processos, me preocuparei apenas e suficientemente com a racionalidade.

4 - Agora, nossos sentimentos e emoções serviram a nossa sobrevivência como espécie no planeta,  sejam eles individuais ou sociais.

5 - Eles vêm de interações físico-químicas sendo funções, funções orgânicas que produzem sensações.

6 - O acreditar e a fé (II) (A) são sentimentos, servem ao mesmo propósito do item 04, sendo duas sensações relacionadas entre si, possuindo uma diferença sutil entre elas. Uma pessoa pode acreditar em um (s) ente (s) divino (s), mas não ter, ou ter nele (s) pouca fé. A maioria das pessoas acredita e possui muita fé. Outros nem acreditam. Mas nós humanos, no mínimo, acreditamos em nós mesmos. Não fosse assim, nem levantaríamos da cama para lutarmos pelas nossas vidas.

7 - Qualquer ser no universo, dotado de sentimentos, emoções, inteligência e consciência, têm que possuir amor-próprio. Na verdade podemos pensar nele como uma extensão do instinto de sobrevivência dos outros animais, porque serve a um cérebro mais complexo, fazendo com que o ser humano não se destrua. Consciência como em nós humanos e amor-próprio andam juntas, como acredito para qualquer outro ser semelhante a nós.

8 - Então, que tipo de ser no universo, dotado de consciência e amor-próprio, mas sem a transcendência e do acreditar e da fé, não sucumbiria, devido a desequilíbrios emocionais, originados de questões profundas como as perguntas "de onde viemos, para onde vamos como espécie, qual o significado da vida, por que estamos aqui, e, a mais aterrorizante delas: o que existe e para onde vamos após a morte?". Afinal a consciência nos dá esta capacidade de questionamento e o amor-próprio, porque serve a nossa e a qualquer proteção própria, precisarão da transcendência e do acreditar e da fé para atribuir a entes divinos e todas as manifestações e realizações desses, para responder a essas questões e muitas outras, fora do controle de sua vida e da sua volta, em seu meio ambiente social e/ou natural. Não há outra saída...

9 - Mas veja, será então que a nossa mente/cérebro, possuiria a transcendência, o acreditar e a fé apenas como "amortecedores" naturais, nos enganando, pois não há o sobrenatural, para nos sentirmos aliviados de tantas questões cruciais? Acontece que aí  entramos no campo da abstração, sentimentos e da poderosa evolução, onde, acredito, possuem poderes para tanto porque está em jogo a perpetuação da espécie humana na Terra.

10 - Mas o que são em essência, a abstração, a transcendência, o acreditar e a fé, senão interações físico-químicas originados da nossa atividade neural com a liberação ou não de substâncias químicas como hormônios e neurotransmissores?

Conclusão:

De (I) - transcendência e (II) - o acreditar e a fé, temos que qualquer cérebro, consciente de si e com amor-próprio, terá que possuir estas propriedades para sobreviver a despeito de muitos questionamentos importantes, decisivos, que o levaria a ficar doente, comprometendo também a sobrevivência do próprio corpo, que o possui junto a ele.


Assim, em todas as épocas e lugares, seres humanos criaram histórias, valores religiosos, inventaram crenças, dogmas, tentaram explicar muitos fatos naturais ou do cotidiano com ideias sobrenaturais, em que o conjunto delas se tornaram seitas e/ou religiões. Veja então que a fé é um sentimento em cima de conceitos abstratos relativos a cada povo, arraigados na mente das pessoas desde quando crianças.


Algumas religiões obtiveram mais adeptos, algumas delas mais adeptos em outras épocas. Mas, a base do que eu escrevo é que todas dizem serem elas absolutas, e as outras, pagãs, erradas.

Na verdade tudo é relativo. Não há religião com verdades absolutas. A única verdade absoluta no ser humano é que essa capacidade de transcendência e do acreditar e ter fé foram selecionadas pela evolução para o sistema nervoso central não entrasse em colapso. O ser humano não sobreviveria, mal deixaria descendentes, etc., com um cérebro defeituoso, confuso e perturbado, com verdadeiros delírios acerca das questões mencionadas no item 08. Ele tem que jogar, colocar nas mãos de ente (s) divino (s), junto com a criação de outros valores religiosos em que acredita com muita fé, para se estabilizar emocionalmente. Sempre foi assim. É uma das faces mais importantes, talvez a mais, da condição humana.


Considerações:


A - Ler "Esclarecimento sobre a fé para os meus artigos" - Neste blog: http://orelativismodasreligioes.blogspot.com.br/2014/04/esclarecimento-sobre-fe-para-os-meus.html

B - Veja que coloco as palavras "ente", "divino" e "criador" em minúsculas porque faço referência a todos os deuses de todas as religiões, sendo cristãs ou não, monoteístas ou politeístas, etc., pois este artigo é de caráter geral.

C - Não incluo dogmas, conceitos, crenças, etc., de nenhuma religião em particular, pois, repito, sendo este artigo de caráter geral, digo apenas ente (s) divino (s) porque ele (s) é (são) o (s) "centro (s)" de todas elas.

D - (24/06/2013): Faz-se necessário uma observação importante sobre o fato de que a grande maioria das religiões acredita em um ou mais criador (s) do (s) universo (s) a nossa volta e também de nós mesmos.

Será coincidência ou os nossos cérebros foram realmente projetados por um ente divino, ou vários, para acreditarmos no sobrenatural, nesse (s) próprio (s) ente (s)? Existem e existiram muitas crenças e religiões para acreditar nesta segunda questão. Se não, todos os seres humanos em todas as épocas acreditariam em um só ente divino ou em vários deles, especificamente iguais! Quem projeta não faz para confundir.

E sobre a coincidência?

Melhor analisar a condição humana da época em que éramos caçadores coletores até a formação das primeiras civilizações e entendermos muitos fatos que aconteciam no mundo todo. Coincidência seria simplificar demais.

Os humanos começaram a fabricar utensílios, armas, objetos decorativos, etc., e o faziam com matéria-prima do solo, de galhos de árvores, etc., mas também questionavam certos fatos.

Darei dois exemplos. (A'): uma fôrma de barro para armazenar água. Eles viam que esse objeto, avançadíssimo para a época e muito útil porque facilitava o uso direto da água, vinha de uma lama, de um local no chão, pertencente ao lugar onde estavam e, então, de onde veio esse local e tudo o mais em volta? Alguém fez o objeto. Mas alguém teria criado todo o resto. (B'): uma lança de madeira de um galho de árvore: também útil porque podiam caçar e abater animais grandes com mais facilidade. Mas eles notavam que as árvores cresciam do solo e que embora outras, maiores, parecessem não crescer, estavam fixas no solo. E de onde veio o solo? Tudo cria tudo, tudo provém de tudo e, óbvio, questionavam, todos os locais que conheciam vinham de algo ou alguém que os criara.

E as pedras tão úteis para rasgar couro, pele, carne, colocá-las nas pontas das lanças? Vinham de outras pedras ou do solo. Metais? De rochas com o uso do fogo oriundo do atrito de rochas especiais com folhas secas em que essas folhas eram de árvores e as rochas do solo, do chão.

Faz parte da nossa natureza humana, e isto não é novidade, de sempre perguntarmos de onde veio tal objeto, quem construiu, como, para quê e muitos "etc." a respeito de... Tudo! Quem criou tudo?!

Para mim é completamente natural pensar, supor que o ser humano vivia querendo respostas a respeito de tudo a sua frente, e, algo, era ainda mais perturbador: todas as pessoas vinham de uma mulher... Mesmo antes de saberem da importante parceria do homem para fazer um filho, de onde vinham as mulheres? De outras, que vieram de outras... E os homens vinham de mulheres. Alguém as fez lá no passado. Lógico que quando descobriram o valor do sêmen do homem, ainda ficava a questão: de onde vieram os dois? Alguém ou algo muito maior que eles teria feito, criado. Algo então poderoso, invisível porque realmente não viam nada, talvez criando o mundo também. Ou vários entes realizando cada um a sua obra.

Os caçadores coletores conheciam as leis da física, da química, da biologia, o DNA, a reprodução, etc.? Então, nada mais coerente pensar que criaram muitas histórias que se tornaram crenças, seitas e religiões.


E - (04/07/3013): Na primeira nota acima eu falo mais sobre a criação, de onde veio tudo que nos cerca e nós mesmos. Claro que religião não é só isto. Qualquer uma delas discorre sobre o bem e o mal e realmente estes dois conceitos são muito importantes, pertencentes as nossas vidas não só individuais como também sociais.

Considero como gosto de fazer, a análise primeira, primordial, ao que se referem estas duas concepções do meio ambiente, natural ou social, influindo em todos os seres vivos incluindo a nós, os humanos, fazendo uma ressalva do também importante estímulo interno como as doenças, defeitos congênitos, etc. Veja, uma substância química tóxica conseguindo vencer a barreira que uma membrana celular impõe, sendo um organismo unicelular ou não, é um mal, da mesma maneira que um assaltante com uma arma apontando a você e querendo a sua carteira. Ambos são estímulos negativos do meio ambiente que os cercam: mudam-se os protagonistas, os meios ambientes, as formas em que o mal age etc., mas a ideia é a mesma.

Então, desde que o primeiro ser vivo apareceu na Terra, há mais ou menos 3,8 bilhões de anos, ele estava na condição ambiental e de si mesmo em receber estímulos negativos e positivos. Foi assim mesmo quando do aparecimento das plantas pluricelulares, animais pluricelulares e até nós. Na verdade somos indivíduos sociais como outros animais e também daí vêm os estímulos positivos ou negativos do meio ambiente social. Nossa condição humana, sempre esteve, a mercê desses estímulos e a evolução agiu em todos os seres com esse fato.

Indo além, se algum (s) ente (s) divino (s) criou (aram) os primeiros homens e mulheres, ele (s) o (s) fez (fizeram), no mínimo, por amor, com carinho e cuidado. Mas aqui entra uma questão difícil de ser solucionada e que as religiões explicaram com muitas ideias diferentes: como colocar homens e mulheres em um mundo com estímulos positivos, mas...  Também negativos? Quem realizaria tal absurdo, com pessoas vivendo suas alegrias, felicidades, mas com muitos sofrimentos devidos a esses estímulos contrários, incluindo aqueles que os levariam à morte? Quem quer morrer? É aí que cada uma delas inventou uma maneira de explicar tamanha contradição.

No Gênese da Bíblia, o principal livro do cristianismo, Deus proibiu o homem e a mulher de comer do fruto da árvore proibida porque, caso contrário, seriam expulsos do paraíso de onde viviam. Eles experimentaram de uma fruta e pronto, eles e todos os descendentes passaram a viver com e sem dores, junto ao Bem e ao Mal em conjunto.

Para mim está clara a tentativa de explicação, a posteriori, de quem escreveu o Gênese, para, a partir de um Deus como a figura do Bem, se entender como as pessoas viviam  e vivem em locais, meios ambientes, muito diferentes de um paraíso...

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